Juros de empréstimos continuarão em queda mas não acompanham a Selic

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 8 de abril de 2018 às 22:52
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:40
compartilhar no whatsapp compartilhar no telegram compartilhar no facebook compartilhar no linkedin

O atual ciclo de cortes começou em outubro de 2016, quando estava em 14,25% ao ano

Os juros do crédito devem continuar caindo, mesmo
após a interrupção do ciclo de cortes da taxa básica de juros, a Selic,
previsto para junho. Isso será possível com a recuperação da economia e a maior
competição no mercado de crédito, avaliou o diretor de Economia da Associação
Brasileira de Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac),
Miguel José Ribeiro de Oliveira.

Em março, o Comitê
de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) reduziu a taxa Selic pela
12ª vez seguida, ao menor nível da história, para 6,5% ao ano, e sinalizou um
novo corte em maio, com interrupção do ciclo em junho. A expectativa é que a
Selic seja reduzida em 0,25 ponto percentual para 6,25% ao ano. O atual ciclo
de cortes começou em outubro de 2016, quando estava em 14,25% ao ano.

Mesmo com a taxa Selic em seu menor patamar, os juros ao
consumidor ainda são altos. A taxa média de juros para pessoas físicas estava
em 74,3% ao ano, em outubro de 2016, e chegou a 57,72% ao ano, em fevereiro. Ou
seja, enquanto a Selic caiu 54%, essa taxa média dos empréstimos às famílias
teve redução de 22%.

Mas há taxas ainda mais altas, como a do cheque especial, que
não mudou muito nesse período. Em outubro de 2016 estava em 328,52% ao ano e em
fevereiro desse ano chegou a 324,12% ao ano. Segundo a Federação Brasileira de
Bancos (Febraban), as instituições financeiras devem apresentar mudanças no
cheque especial ainda neste mês, mas ainda não foram divulgados detalhes da
alteração. “As taxas de juros nunca vão cair na mesma proporção da queda da
Selic porque ela é um dos itens que compõem o custo. Além da Selic, tem
impostos e compulsórios, despesas administrativas, risco, ou seja, parte do que
os bancos emprestam eles não recebem de volta, e o lucro. Naturalmente, nada
justifica o patamar dos juros que existe hoje”, disse o diretor da Anefac.

Oliveira destacou
que os juros do crédito ainda são altos devido ao “baixo nível” do saldo das
operações de crédito, concentração bancária (poucas instituições atuando no
mercado), compulsórios altos (parte do dinheiro depositado nos bancos que deve
ser recolhida ao BC) e desemprego, o que leva a aumento de risco.

O diretor da Anefac lembrou que o custo de captação do dinheiro
pelo banco (Selic) corresponde a 20% da taxa de juros do crédito. A maior parte
da composição da taxa é o risco de inadimplência (32%). O lucro corresponde por
27%, impostos e compulsório, 20%, e despesas administrativas com funcionários e
o processo de liberação do crédito, 1%. Oliveira explicou que essas despesas
administrativas são mais baixas porque os bancos cobram tarifas para cobrir
parte desses custos.

Com a recuperação da economia, o que deve levar a menos
desemprego, o risco se reduz, avalia Oliveira. Além disso, o economista citou
que recentemente o BC reduziu os depósitos compulsórios, o que liberou mais
dinheiro para os bancos emprestarem, o que pode levar à redução dos juros ao
consumidor. Outro fator que tem mudando o cenário é a maior participação de
fintechs (empresas de inovação no setor financeiro) e cooperativas de crédito,
o que aumenta a competição com os bancos. A redução da Selic também gera uma
outra consequência, os bancos deixam de aplicar em títulos do governo e tendem
a emprestar mais para conseguir retornos maiores.

Oliveira citou ainda o novo projeto do cadastro positivo, em
tramitação no Congresso, que se aprovado vai ajudar a reduzir o custo do
crédito para os bons pagadores. Atualmente, a adesão ao cadastro é opcional. Se
a mudança for aprovada, a adesão será automática. “Os bancos hoje, por não ter
informação, acabam cobrando caro de tudo mundo. Com o cadastro positivo, os
bancos vão disputar o bom pagador, oferecendo uma melhor condição de crédito
para ele”, avalia.

“A tendência é que as taxas continuem caindo, em um cenário de
Selic mais baixa, de competição maior, de recuperação da economia. O Banco
Central vai reduzir a Selic em 0,25 na próxima reunião. Mas mesmo dali para
frente, as taxas de juros ao consumidor vão continuar caindo por conta desses
fatores”, concluiu Oliveira.

A Febraban também acredita que a tendência é de redução dos
juros do crédito. “Mantido o cenário atual, de inflação e Selic em baixa, de
retomada gradual do crescimento e inadimplência em queda ou estável, é
praticamente certo que vamos observar novos recuo das taxas ativas de crédito e
dos spreads [a diferença entre as taxas cobradas nas concessões de crédito e as
taxas de captação do dinheiro pelas instituições financeiras] no decorrer dos
próximos meses”, avaliou.


+ Economia