Junho Púrpura: campanha alerta para distúrbios de aprendizagem em crianças

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 10 de junho de 2019 às 11:05
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 19:36
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Problemas como dificuldades em receber informações, acometem de 5 a 15% de crianças em idade escolar

Os distúrbios de aprendizagem acometem de 5 a 15%
de crianças em idade escolar, em diferentes idiomas e culturas, sendo os
específicos em leitura e escrita altamente prevalentes. O dado é do Manual
Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V, 2015)
, publicação
da American Psichiatric Association.

Distúrbios de aprendizagem são problemas que afetam
a capacidade da criança de receber, processar, analisar ou armazenar
informações. Os distúrbios podem dificultar a aquisição, pela criança, de
habilidades de leitura, escrita, soletração e resolução de problemas
matemáticos.

Para alertar e colocar este assunto em debate
também entre a população, a Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP) promove
neste mês a campanha Junho Púrpura – Distúrbios de Aprendizagem: conhecer, perceber,
enfrentar. O objetivo é levar dados e atualização aos pediatras sobre o
aprendizado, suas dificuldades e distúrbios. “Precisamos trazer o problema para
o consultório e não deixá-lo apenas na escola e, dessa forma, contribuir para
uma orientação aos pais, esclarecendo dúvidas e ajudando as famílias na difícil
escolha dos especialistas ou profissionais que devem procurar”, afirmou a
presidente do Departamento de Otorrinolaringologia da SPSP e coordenadora da
campanha, Renata Di Francesco.

Segundo o coordenador de campanhas da SPSP, Claudio
Barsanti, a conscientização dos profissionais de saúde para a questão é
fundamental. “O quanto antes a causa dos distúrbios for detectada, melhor.
Dessa maneira, serão realizadas as intervenções necessárias para que essas
crianças possam ter um diagnóstico e encaminhamento adequados”.

Barsanti explicou que sinais como alterações na
percepção, escuta, visão, entre outros, devem ser observados e tratados o mais
rapidamente possível. “Os profissionais devem estar atentos nesse sentido, pois
o tratamento adequado precoce fará toda a diferença no futuro dessas crianças”,
ressaltou.

Entre as ações da campanha, fazem parte o
treinamento com os pediatras e materiais orientadores aos pais. “A campanha vai
apresentar textos de orientação à população inseridas no blog do site da SPSP,
vamos elaborar um curso de orientação aos pediatras e outros textos de
orientação aos médicos. É uma campanha que visa as duas frentes, que é a
orientação dos pacientes e dos médicos para que isso seja bem englobado”,
informou Renata.

Para a coordenadora da campanha, é importante
trazer essas queixas escolares para os médicos durante a consulta. “Às vezes os pais estão muito preocupados com
doenças, com peso, altura, com infecções e deixa de falar que a criança não
está indo bem na escola. Muitas vezes o aproveitamento ruim da criança na
escola está relacionado com déficits auditivos, com problemas visuais e às
vezes com coisas mais complexas, por exemplo, uma dislexia ou outros distúrbios
importantes que possam estar relacionados com esses problemas.”

Após observar algumas alterações no modo de fazer a
lição de casa de seu filho Rafael, de 7 anos, a pesquisadora A.B., que prefere
ter seu nome preservado, disse que vem percorrendo uma longa jornada para
fechar o diagnóstico de seu filho.

Inicialmente ele foi diagnosticado, por meio de uma
avaliação neuropsicológica, como portador do Transtorno do Déficit de Atenção
com Hiperatividade (TDAH), mas ele pode ter o Transtorno do Processamento
Auditivo Central. 

A criança vem sendo acompanhada pelo pediatra, e também por
fonoaudiólogo e psicóloga. “Comecei a perceber em casa que ele estava com
dificuldade para fazer certas lições e coisas que ele já tinha aprendido, foi
uma dificuldade que me chamou atenção. Marquei uma reunião com a escola que
confirmou, achando que ele estava com um pouco de dificuldade para avançar e
sugeriu que ele fizesse a avaliação neuropsicológica”.

Após esta avaliação, a pesquisadora conta que
começou uma ‘via crucis’ atrás de especialistas. “A gente começou a procurar
psicólogas, fui em cinco diferentes até eu achar uma que condissesse com o que
eu penso, fui em neurologista, e os dois disseram que o TDAH precisa de
medicação”.

Mas a pesquisadora não estava confiante em medicar
seu filho e foi em busca de outras avaliações. “Comecei a entrar em outras
vias, ele faz tratamento psicológico, fui atrás para saber do Transtorno do
Processamento Auditivo Central e quando percebi que ele tinha essa alteração,
eu apostei todas essas fichas nisso. Até a gente solucionar essa alteração, eu
não quero pensar em medicação, ele vai fazer tudo o que tem que fazer com
fonoaudióloga e um psicomotricista para ajuda-lo”.

Desde então, ela disse que ele vem evoluindo bem.
“A escola mesmo disse que ele está bem mais concentrado, conseguindo acompanhar
bem a turma, ele jamais teve que fazer uma prova diferenciada, ele tem ajuda na
hora do enunciado, mas está indo bem e a parte social também está
supercontrolada”.

Ela aconselha às famílias a se informar muito quando
se deparar com algum transtorno de aprendizagem. “Leia tudo, mas não dê apenas
um ‘google’, mais do que isso, é importante procurar um profissional que
você confie e se informar muito. A informação é a única coisa que vai te ajudar
a ajudar seu filho, entender do que se trata é fundamental para as ações que
terá em seguida e eles precisam muito da gente”, finalizou. 


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