Insônia afeta com mais frequência mulheres na fase da menopausa

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 25 de agosto de 2018 às 22:37
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:58
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Contra o problema, pesquisadores da Unifesp estudam a eficácia de práticas como meditação e ioga

Desde a chegada da menopausa, a empregada doméstica Maria Vanda
Cavalvante Silva, de 51 anos, não sabia mais o que era uma noite bem dormida.
Com as intensas ondas de calor, a paulistana acordava a cada meia hora com
mal-estar e tinha dificuldades para pegar no sono novamente.

Após meses de martírio, Maria Vanda procurou uma
ginecologista especializada em sono da mulher e iniciou terapia de reposição
hormonal, o que melhorou os sintomas.

Mas a recuperação completa da qualidade do sono só
aconteceu quando ela passou a meditar, também por recomendação médica. “A
reposição diminuiu as ondas de calor, mas a meditação me fez prestar mais
atenção à minha forma de pensar. Antes eu ficava preocupada com tudo. Hoje,
tenho meu ritual de meditar antes de deitar. Voltei a dormir sete horas por
noite”, conta.

Como ela, 32% das paulistanas têm problemas de
insônia, o dobro do índice registrado entre os homens, segundo dados do
Instituto do Sono da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), um dos mais
renomados do País. Na menopausa, esse porcentual sobe para 60%. Foi pensando
nesse enorme contingente de mulheres que pesquisadores do Instituto começaram a
estudar a eficácia de diferentes terapias para o problema.

Reposição hormonal e terapia comportamental são as
técnicas mais utilizadas, mas, nos últimos anos, o grupo tem avaliado a
eficácia das chamadas práticas integrativas, como ioga, meditação e massagem, e
obtido bons resultados. 

Pesquisadora do Instituto, a ginecologista Helena
Hachul apresentou alguns desses resultados na 15.ª edição do Brain Congress,
evento sobre cérebro, comportamento e emoções, que este ano foi realizado em
Gramado, no fim de junho.

Segundo a cientista, os resultados são importantes
principalmente para quem não quer ou não pode fazer terapia de reposição.
“Se a insônia começou após a menopausa, a reposição hormonal é a primeira
opção, mas há pacientes com contraindicação, como as que tiveram câncer de
mama. Então temos de pensar em opções”, relata.

Um dos primeiros estudos de Helena que mostrou bons
resultados foi o que indicou benefício da isoflavona, fitoterápico derivado da
soja que atua como uma terapia hormonal natural. Outras pesquisas do Instituto
mostraram eficácia de acupuntura, meditação e massagem. Na mais recente,
publicada este ano na revista Menopause, foi visto efeito benéfico de
mindfulness e relaxamento na qualidade do sono, redução da insônia, aumento do
nível de atenção e redução dos sintomas da menopausa.

Múltiplas causas

Os bons resultados estão relacionados ao fato de o problema ter
múltiplas causas. “A menopausa é um momento de mudanças físicas,
psicológicas e hormonais. O fator cognitivo/comportamental é muito importante
e, por isso, estão inseridas práticas como meditação e relaxamento. Mas não
quer dizer que todas vão se beneficiar, pois cada paciente responde de um
jeito”, diz Luciano Ribeiro, neurologista e coordenador de Medicina do
Sono do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.


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