Inadimplência atinge 62 milhões de brasileiros e afeta 3% do crédito

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 12 de novembro de 2018 às 12:16
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 19:09
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Dívida com bancos, cartão de crédito, financeiras e leasing aflige 52% dos brasileiros com nome sujo

A taxa de
inadimplência ao crédito do sistema financeiro no Brasil chegou a 3,04%,
ou em termos absolutos R$ 96,6 bilhões de um saldo total de R$ 3,168 trilhões.
Os dados preliminares, relativos ao mês de setembro, são do Banco Central (BC).

Os valores não discriminam as contas em
vermelho de empresas e pessoas físicas. A inadimplência diz respeito a dívidas
em atraso há mais de 90 dias.

A dívida a bancos, operadores de cartão de crédito, financeiras
e leasing aflige metade (52%) dos brasileiros com “nome sujo” no Serviço de
Proteção ao Crédito, o SPC Brasil. Conforme o birô de crédito, em setembro, 62,6
milhões de pessoas estavam “negativados”, equivalente à população da Itália ou
pouco menos de um terço da população adulta com 20 anos ou mais – conforme
cálculo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), há 209
milhões de brasileiros,194 milhões com idade a partir de 20 anos (conforme
cálculo estimado na última quinta-feira,8).

Em relação às instituições financeiras, tabela das
Estatísticas Monetárias de Crédito, disponível para download na página do BC, a
inadimplência junto a essas instituições equivalem a 2,7% dos saldos. No
caso das instituições financeiras privadas nacionais, a proporção é de 3,8%.
Para as instituições financeiras estrangeiras, o percentual é de 2,6%.

A maior parte do montante da inadimplência é devida aos bancos
públicos (46,27%). Em segundo lugar, às instituições privadas de capital
nacional (41,28%). Em terceiro lugar, às instituições de capital estrangeiro
(12,45%).

Crise, desemprego e dívida

A inadimplência sempre cresce com o desemprego. Quando o
país entrou em crise, a partir de 2014, nós tínhamos 51,8 milhões de CPF
negativados. A crise, de 2014 pra cá, colocou mais 10 milhões na
inadimplência, descreve Luiz Rabi, economista da Serasa Experian.

Marcela Kawauti, economista-chefe do SPC Brasil, confirma que a
recuperação do trabalho, e portanto da renda, é o que faz com que quem esteja
inadimplente possa colocar em dia as contas em atraso, especialmente os mais
pobres. “Quando o consumidor que tem a renda menor voltar para o mercado de
trabalho, ele vai pagar a dívida, resolver esse problema”.

Entre 2014 e 2017, cerca de 6,5 milhões de pessoas ficaram
sem ocupação (dessas 3,3 milhões tinham empregos formais). Os números do IBGE contabilizam que no período a média anual da taxa de desocupação das pessoas de 14 anos ou
mais idade no Brasil passou de 6,8% (o menor índice da história) para 12,7% –
mesmo percentual de junho de 2018, quando a inadimplência atingiu recorde na
Serasa.

Cartão, cheque e empréstimo

As dívidas com o setor financeiro são monitoradas pelo Banco
Central. Segundo a autoridade monetária, R$ 2 de cada R$ 5 do saldo
inadimplente são de cartão de crédito rotativo, que junto com o cheque especial
tem o maior custo de financiamento.

O peso da dívida no cartão é desproporcional ao volume de
operações realizadas. “Embora represente apenas 2% do saldo de operações de
crédito, o cartão de crédito na modalidade rotativo corresponde a 20,8% da
carteira inadimplente”, descreve o Banco Central em
documento preparado para IV Fórum de Cidadania Financeira, que ocorreu semana
passada em Brasília.

Além da dívida do cartão, 13,5% são de crédito pessoal; 12,9% de
crédito consignado; 11% de financiamento habitacional e 9,8% de aquisição de
carros – um terço do restante inadimplente é formado por diferentes tipos de
créditos e financiamentos.

Dívida em família

No mês de maior inadimplência, a faixa etária com a proporção de
mais inadimplentes em junho era a de 36 a 40 anos (47,3%). Mas preocupava
especialmente à Serasa o crescimento do percentual de pessoas inadimplentes com
mais de 61 anos (35%), 2,6 pontos percentuais a mais do que o verificado em
2016.

Dados do Banco Central mostram que a proporção de endividamento das famílias brasileiras com o sistema financeiro em
agosto era de 41,93% da renda acumulada em 12 meses – excluindo as dívidas com
a casa própria, essa proporção cai para 23,68%. O pico da proporção do
endividamento das famílias foi em abril de 2015 (46,39%).


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