Herpes-zóster, do vírus da catapora, pode ser ativada pelo estresse

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 17 de dezembro de 2017 às 02:45
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:29
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Doença infecciosa causada pelo vírus da catapora, adquirido na infância, pode ser desencadeado pelo estresse

A herpes-zoster é uma doença infecciosa causada pelo vírus varicela-zóster – o mesmo responsável pela catapora. Geralmente adquirido na infância – momento em que a maioria dos brasileiros manifesta as feridas clássicas e a coceira da catapora -, ele pode ficar anos dormente no organismo e “acordar” a qualquer fase da vida. Quando desperta, o vírus faz surgir dolorosas bolhas pelo corpo.

O vírus fica alojado em gânglios nas regiões do tórax ou do abdômen e um dia, por causa da queda da imunidade ou porque a pessoa está mais velha, ele aparece como herpes-zoster, explica Maisa Kairalla, presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia.

Mesmo aqueles que não tiveram catapora na infância podem desenvolver a doença na vida adulta. “Não precisa ter tido a doença, basta contato com o vírus. E a população brasileira é muito exposta a ele – 94% está infectada com o varicela-zóster”, afirma Kairalla.

A doença é mais comum após os 50 anos – no entanto, o diagnóstico em jovens tem sido frequente, afirma Kairalla. O estresse, diz a médica, é um dos fatores que vem mudando o perfil daqueles afetados pela infecção e fazendo a doença aparecer cada vez mais cedo.

A única maneira de prevenir a infecção, que pode ocorrer várias vezes, é por meio da vacinação. O imunizante, contudo, não é 100% eficaz, está disponível somente na rede privada e custa, em média, R$ 450.

A doença pode deixar sequelas, que vão de cicatrizes a cegueira e surdez. Também é comum a neuralgia pós-herpética, conhecida como nevralgia, uma condição dolorosa que é ativada na maioria daqueles que desenvolvem a herpes-zoster e que pode durar vários anos. A condição pode ser tão intensa que afeta movimentos simples, como vestir-se ou levantar-se da cama. 

O tratamento envolve medicamentos antivirais e analgésicos e, quanto mais cedo o paciente buscar o hospital, maior as chances de sucesso. O princípio ativo utilizado para conter a herpes-zoster, o aciclovir, evita a expansão das lesões, mas só tem efeito se tomado até 72 horas após o aparecimento dos sintomas. Por isso, rapidez na busca de ajuda é essencial.

Porém, o desconhecimento da doença pela maioria dos médicos e pacientes gera diversas visitas ao hospital, o que prejudica o tratamento, afirma Kairalla.

Gravidez

A doença também pode aparecer na gravidez, uma vez que a gestação afeta o sistema imunológico da mãe. Os mesmos mecanismos fisiológicos para o organismo materno não rejeitar o bebê também suprimem a resposta imune do corpo – o que abre caminho para o varicela-zóster despertar.

O tratamento na gravidez, contudo, fica comprometido. Por causa da gestação, não pode tomar a medicação antiviral que evita a expansão das lesões da herpes-zóster e apenas aplicar pomada nas bolhas. Normalmente, a doença não costuma provocar sequelas no feto.

Faltam dados

A herpes-zoster não é de notificação compulsória, o que significa que hospitais e postos de saúde não precisam comunicar o Ministério da Saúde sobre casos da doença. Com isso, acredita-se que o governo não saiba de fato quantos casos ocorrem por ano.

O Ministério da Saúde hoje apresenta os casos totais de infecção pelo varicela-zóster, sem separar o que é catapora do que é herpes-zóster. Em 2016, houve 60.955 casos de varicela no país, segundo o governo.

Prevenção

A única forma de prevenir a herpes-zóster é por meio de uma vacina contra o varicela-zóster na vida adulta. Desde 2014, o Brasil conta com uma, a Zostavax, produzida pela Merck Sharp & Dohme Farmacêutica Ltda.

No entanto, o produto está disponível somente na rede privada e tem indicação apenas para aqueles acima dos 50 anos. Pessoas antes dessa faixa etária não são elegíveis para o imunizante.

A vacina, contudo, não é sinônimo de proteção total. De acordo com a fabricante, o produto tem eficácia média de 70% – o que significa que três em cada dez pessoas que tomam a vacina podem vir a desenvolver a doença ainda assim.

No entanto, sua administração pode evitar a neuralgia pós-herpética, a condição dolorosa que pode permanecer após a doença.

Em outubro, os Estados Unidos aprovaram um novo imunizante, a Shingrix, produzida pela GlaxoSmithKline. A vacina também é recomendada para aqueles acima dos 50, mas promete eficácia maior contra a doença, de 90%. Não há previsão de quando o produto deve chegar no Brasil.


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