Facebook traz ao Brasil serviço inédito de vídeo já disponível nos EUA

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 29 de agosto de 2018 às 21:34
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:58
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Diferente do YouTube, o catálogo do serviço não será formado por produtos publicados por usuários

O Facebook lançou no Brasil seu
serviço próprio de vídeo, o Watch. A ferramenta vai funcionar como um
repositório de obras audiovisuais que o usuário poderá acessar e organizar
conforme seus interesses.

O recurso já estava disponível nos
Estados Unidos, mas foi estendido agora a outros países. A novidade foi
anunciada na última quarta-feira, 29 de agosto, pela empresa em comunicado
divulgado em sua página oficial.

O serviço foi disponibilizado
inicialmente para o aplicativo de celular e para sistemas de agregação de
conteúdo para TV como o Amazon Fire TV, Apple TV, Samsung Smart TV, Android TV,
Xbox One e Oculus TV. Já para os sites acessados por desktops, a ferramenta
ainda será implantada.

O catálogo será composto por vídeos
de produtores de conteúdo parceiros. Desde o seu lançamento, o Facebook vem
fechando acordos com realizadores e com veículos de mídia para formar a lista
de obras do serviço. Páginas também poderão veicular vídeos por meio do
serviço. De acordo com a assessoria, essa possibilidade está aberta para
algumas páginas, conforme critérios estabelecidos pela plataforma.

Mas, diferentemente do YouTube, o
catálogo do serviço não será formado por produtos publicados por usuários. Os
usuários ficarão restritos a um papel mais próximo de audiência. Eles poderão
buscar vídeos por autores e temáticas. Também será possível personalizar listas
e visualizar o que “amigos” na rede estão vendo.

Se não vai liberar a publicação de
vídeo de usuários, o Facebook aposta na promoção de uma cultura de consumo
simultâneo e participativo entre os usuários, com formas de amigos assistirem
simultaneamente ao mesmo conteúdo e interação com programas. “Lançamos o Watch
nos EUA há um ano para oferecer às pessoas um lugar no Facebook para encontrar
programas e criadores de vídeos que elas adoram e para iniciar conversas com
amigos, outros fãs e até mesmo com os próprios criadores”, disse o
vice-presidente de vídeo, Fidji Simo, em nota divulgada no site da empresa.

Com isso, o Facebook busca se
posicionar melhor no mercado de audiovisual online sob demanda, em um espaço já
povoado por seus concorrentes, como o YouTube (Google), AmazonPrime (Amazon) e
Apple TV (Apple). Além disso, há empresas especializadas em streaming, como a
Netflix, e projetos de grandes operadoras, como o Hulu (Comcast e AT&T).

Conteúdo
próprio

O serviço Watch marca uma virada do
Facebook em relação ao seu papel como veículo de mídia. Inicialmente, a
plataforma se apresentou como um espaço de publicação de imagens, textos,
áudios e vídeos. Com a aplicação intensa de algoritmos para selecionar o que é
exibido na linha do tempo do usuário, ela passou a ter uma prerrogativa
editorial sobre as mensagens circulando no seu interior.

Com o Watch, o Facebook não apenas
atuará como um organizador de conteúdos de terceiros, mas como realizador. Uma
das estratégias anunciadas neste ano foi a definição de parcerias com emissoras
como ABC e CNN para a criação de programas jornalísticos específicos.

A empresa anunciou investimento em
outros programas. Outra estratégia vem sendo a disputa pela compra de direitos
de transmissão. A empresa adquiriu a licença para transmitir campeonatos como a
Liga Nacional de Beisebol dos Estados Unidos, a Premier League de futebol do
Reino Unido e a mais importante competição de críquete da Índia.

Concentração

Na avaliação da professora do curso
de comunicação social e publicidade da Universidade Federal do Ceará e doutora
especializada em convergência de mídias Helena Martins, o lançamento do Watch
reforça uma lógica do Facebook de concentrar funcionalidades de concorrentes
com o objetivo de manter o usuário o máximo de tempo na plataforma, aumentando
os dados pessoais coletados que servem de insumos para as atividades econômicas
da empresa, como a veiculação de anúncios.

A professora vê com preocupação a
delimitação de quem poderá ter obras no catálogo. “As páginas vão poder
publicar, e não as pessoas. Como estas vêm tendo alcance reduzido e sendo
pressionadas a pagar para impulsionar conteúdos, o serviço vai privilegiar as
páginas que tiverem recursos. Aquela lógica de que as pessoas podem produzir na
internet fica limitada. Além disso, há uma padronização estética, uma vez que a
plataforma define o tamanho e o formato dos vídeos de maior alcance. E tudo
isso tem impacto ao limitar a diversidade, ainda mais dado o alcance da rede no
Brasil”, analisa.

De acordo com a empresa, 50 milhões
de pessoas nos Estados Unidos assistem a vídeos de, pelo menos, um minuto, pelo
serviço a cada mês. O total de tempo de obras vistas pela ferramenta cresceu 18
vezes desde o começo do ano. No Brasil, o Facebook anunciou em julho ter 127
milhões de usuários.


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