Exame de sangue pode acusar lesão pré-cancerígena no pulmão

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 17 de fevereiro de 2019 às 01:23
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 19:23
compartilhar no whatsapp compartilhar no telegram compartilhar no facebook compartilhar no linkedin

Mais incidente no mundo, câncer de pulmão não costuma ter sintomas clínicos nos estágios iniciais

Mais incidente no mundo — são
diagnosticados, em média, 1,8 milhão de casos por ano —, o câncer de pulmão
costuma não ter sintomas clínicos nos estágios iniciais. Geralmente, quando
confirmada, a doença está avançada e, portanto, com possibilidade menor de
cura.

Criar instrumentos que facilitem a
identificação precoce desse tipo de tumor desafia cientistas, e uma equipe
britânica apresenta uma solução que chama a atenção pela simplicidade e pelo
ganho de tempo. Segundo eles, um exame de sangue poderá ser usado para
identificar alterações pré-cancerígenas, antes mesmo de o carcinoma surgir.
Detalhes do trabalho foram divulgados ontem, na revista Disease Models and
Mechanisms.  

O foco dos pesquisadores das
universidades de Cambridge e de Leicester é o nível circulante de DNA no sangue.
Células cancerígenas vão derramando essa molécula na corrente sanguínea à
medida que crescem e se multiplicam indiscriminadamente.

 Em experimentos com
ratos, os cientistas conseguiram identificar alterações do corpo antes de elas
se tornarem um tumor maligno. “Essa observação é excitante porque sugere que as
mutações causadoras de tumor podem ser detectadas no DNA circulante de
pacientes com câncer em estágio inicial ou com tumores pré-cancerígenos”, diz,
em comunicado, Miguel Martins, pesquisador na Unidade de Toxicologia do Medical
Research Council (MRC), ligado à Universidade de Cambridge, e principal autor
do estudo.

A equipe usou ratos modificados
geneticamente para ter uma mutação no gene KRAS. Dessa forma, o corpo das
cobaias passou a replicar os primeiros sinais de câncer de pulmão. Os
cientistas realizaram exames regulares de tomografia computadorizada (TC) para
monitorar o desenvolvimento de pequenos tumores de pulmão pré-cancerosos nos
camundongos, acompanhados de coletas de amostras de sangue. Uma das
constatações a que chegaram é de que os animais que desenvolveram o tumor
maligno apresentavam níveis mais elevados de DNA circulante que aqueles que
permaneceram saudáveis. Além disso, os níveis de DNA liberados pelos tumores
cancerígenos no sangue dos camundongos se correlacionavam com o tamanho dos
tumores vistos nas tomografias.

Em uma segunda etapa, o DNA circulante
nas amostras de sangue foi analisado quanto à presença da mutação ligada ao
gene KRAS, responsável pelo surgimento da doença. Os pesquisadores descobriram
que isso era possível também em fases posteriores ao desenvolvimento do
carcinoma, quando os tumores eram considerados pré-cancerígenos. Segundo Miguel
Martins, novos estudos serão realizados em camundongos que tenham lesões anteriores
ao câncer em outros tecidos do corpo. “Isso nos dará uma ideia melhor sobre se
a o DNA circulante tem potencial uso para detecção precoce da doença”, explica.

Área promissora

Diretor médico da British Lung Foundation, Nick
Hopkinson pondera que se trata de um estudo inicial, feito em ratos. Ainda
assim, para o especialista, a equipe de cientistas está investindo em uma “área
muito interessante de pesquisa”. “Um exame de sangue para câncer de pulmão
seria um grande passo à frente, desde que seja sensível e específico, para que
não haja muitos resultados falso positivos ou falso negativos”, afirma, em
comunicado.

Mariana Delfino-Machin, gerente do Programa de Câncer do MRC, que financiou a
pesquisa, também considera o trabalho promissor. “O câncer de pulmão é
incrivelmente difícil de diagnosticar na fase em que pode ser tratado com
sucesso. Desenvolver estratégias de detecção precoce para melhorar as taxas de
sobrevivência é fundamental. E, se isso pode ser alcançado usando apenas uma
amostra de sangue, seria ainda mais benéfico aos pacientes”, justifica.


+ Ciência