Empresas conseguem monitorar internautas com a ajuda de navegadores

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 12 de agosto de 2018 às 13:39
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:56
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Nos últimos anos, dados pessoais entraram no centro de disputas econômicas e políticas

Nos últimos anos,
dados pessoais entraram no centro de disputas econômicas e políticas. Essas
informações passaram a ser chamadas de “o novo petróleo” e organizações
internacionais classificam como o principal insumo de uma “4ª revolução
industrial”.

Na política, as
denúncias de interferências em processos políticos e eleições por grandes
plataformas colocou em evidência o poder da coleta desses registros para
direcionar anúncios e mensagens.

Neste cenário, emerge uma disputa silenciosa entre as diversas
iniciativas de coleta de dados e as tentativas de se proteger dessa prática,
seja por meio de legislações seja por condutas cotidianas. Navegadores usados
em desktops e smartphones são um dos canais por meio dos quais cidadãos têm
sido monitorados.

O alerta foi dado por Veridiana Alimonti, representante da
entidade internacional Eletronic Frontier Foundation (EFF), na nona edição do
“Seminário sobre Proteção à Privacidade e aos Dados Pessoais”, evento promovido
pelo Comitê Gestor da Internet nesta semana em São Paulo e que reuniu
especialistas internacionais no tema.

No encontro, a especialista em políticas digitais, que também já
integrou o comitê, chamou a atenção para as formas de vigilância das pessoas
por meio de sistemas como Chrome, Firefox, Safari e Internet Explorer. Por meio
de diversos mecanismos, empresas coletam e reúnem informações sobre pessoas sem
que elas saibam.

Esses registros permitem que, ao acessar determinado site ou
serviço (como uma página de comércio eletrônico), o site identifique de quem se
trata, abrindo espaço para formas de segmentação e até mesmo discriminação. Um
exemplo desse tipo de prática é a diferenciação de preços pelo CEP do
comprador.

Um dos mecanismos utilizados nesse monitoramento são os
conhecidos cookies, instalados em dispositivos ao acessar um site. Os cookies
são pequenos “pedaços de código” (ou mini-programas) criados para registrar
dados da navegação das pessoas e repassar a empresas com fins de rastreamento.

Esse tipo de recurso é utilizado em geral por agências de
marketing digital, cuja adoção ocorre para que os anúncios “sigam” os usuários
pelos sites pelos quais navegam. Nesses casos, o usuário pode apagar os cookies
instalados. Cada navegador oferece essa funcionalidade em determinado local das
suas configurações.

Outra técnica de vigilância é conhecida como “supercookie”.
Nela, provedores incluem códigos nos cabeçalhos de navegação para cada cliente,
mas que não são vistos pelo usuário. Assim, quando uma pessoa faz um acesso, o
site pode ler o identificador e saber que se trata de determinado computador ou
domicílio.

Impressão digital dos navegadores

Contudo, há um sistema de rastreamento mais perigos que os
cookies, mostrou Veridiana Alimonti no seminário do CGI, conhecido pelo nome em
inglês “fingerprinting”, termo que designa uma espécie de “impressão digital”
formada no navegador de cada pessoa.

Quando alguém acessa
um site, empresas conseguem atribuir uma identificação a um navegador em um
computador por meio da combinação de várias informações, como elementos da
configuração do navegador e do computador, fuso horário, entre outros. “Sites
podem fazer isso sem serem detectados. Essa informação não está no seu
computador, mas nas empresas. Isso pode ser usado, inclusive, para recriar os
cookies. Essa técnica não oferece nenhuma funcionalidade útil aos usuários e na
prática cria um potencial identificador global por meio do qual se pode
acompanhar a navegação dos usuários e criar perfis de forma mais obscura”,
analisou a especialista.

Navegadores mais seguros

Internautas têm hoje à disposição diversos navegadores. Entre os
mais famosos estão Google Chrome, Internet Explorer, Safari (da Apple) e
Mozilla Firefox. Mas há outros menos conhecidos como Tor, Brave e Opera. 

Segundo ranking realizado pelo site ExpressVPN, especializado em publicidade, o
navegador mais seguro é o Tor Browser, seguido pelo Firefox e pelo Brave. “Ele é um Firefox com vários consertos relacionados à segurança
e privacidade. Além de encaminhar todo o tráfego através da rede Tor, ele
bloqueia funcionalidades nos sites que podem ser usadas para te identificar. Os
sites que tentarem monitorar você não vão conseguir diferenciar seu acesso do
das milhões de pessoas que usam Tor diariamente. Alguns sites não carregam bem
nele, mas é a melhor alternativa”, recomenda o diretor de tecnologia da
organização Coding Rights e membro do conselho editorial do Boletim
Antivigilância, Lucas Teixeira.

O Mozilla lançou recentemente o Firefox Focus para dispositivos
móveis, com alguns mecanismos de proteção contra rastreamento. Ele permite
bloquear rastreadores de anúncios, de análise, de redes sociais ou de
conteúdos. Além disso, deixa o botão de remoção do histórico de navegação na
tela inicial, facilitando a operação.

O Firefox para
desktops possui alguns plugins (extensões) para evitar coletas indevidas. Um
exemplo é o chamado “Facebook Container”, que “isola” a aba da rede social e
impede que ela possa registrar o que o usuário faz em outras abas. É por meio
dessa vigilância, por exemplo, que o Facebook usa o dado de uma visita que você
fez em um outro site (como uma busca sobre uma cidade) para oferecer anúncios
(como a venda de passagens para aquela cidade).

Um dos mecanismos anunciados pelos navegadores como forma de
garantir um ambiente mais seguro são as abas “privativas” (ou denominação
semelhante). Esses recursos, entretanto, segundo Lucas Teixeira, são pouco
efetivos, valendo apenas para evitar que o site acessado fique registrado no
histórico de navegação e não guarde cookies depois de fechada a janela, mas não
protege contra formas mais sofisticadas de monitoramento.

Ferramentas de proteção

A Eletronic Frontier Foundation criou um projeto para alertar
usuários sobre técnicas de rastreamento por meio de navegadores, chamado
Panoptclick. Acessando o site, é possível fazer um teste para verificar se o
seu Chrome, Microsoft Edge ou Firefox estão protegidos desse tipo de
mecanismos.

Além do projeto, a Eletronic Frontier Foundation também
disponibiliza um plugin (extensão) que protege navegadores de mecanismos de
rastreamento que são instalados por sites. O recurso é chamado “Privacy Badger”
(Texugo da Privacidade, na tradução do termo em inglês).

Na avaliação de Lucas Teixeira, esta é uma boa ferramenta. Ela
não elimina totalmente a tentativa de inserir “impressões digitais” nos
navegadores (fingerprinting), mas evita a instalação de vários rastreadores.

O especialista alerta que, mesmo com um comportamento seguro em
relação aos navegadores, é preciso estar atento também com outros programas,
especialmente aplicativos em smartphones. Os usuários devem desabilitar
autorizações para usos diversos, como câmeras e microfones, como forma de evitar
coleta maciça de dados por esses sistemas e dispositivos.


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