Embrapa desenvolve fertilizante orgânico nitrogenado de biomassa

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 13 de outubro de 2018 às 18:40
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 19:05
compartilhar no whatsapp compartilhar no telegram compartilhar no facebook compartilhar no linkedin

O N-verde pode ser usado em todo o tipo de lavoura, mas o projeto tem foco nas hortaliças

A Embrapa Agrobiologia,
unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária sediada no Rio de
Janeiro, desenvolveu um fertilizante orgânico a partir da biomassa aérea de
espécies leguminosas, o N-verde. O processo aproveita a parte da planta que
fica fora da terra.

Na primeira fase da
pesquisa, iniciada em 2008, foram selecionadas as matérias-primas que poderiam
ser usadas e que tivessem volume de nitrogênio próximo de 4%. O projeto foi
retomado no ano passado, para desenvolvimento do trabalho de obtenção da
biomassa e de seu processamento até chegar ao produto final, que é o
fertilizante peletizado ou granulado.

O engenheiro agrônomo Ednaldo Araújo, líder do projeto na
Embrapa Agrobiologia, disse que um dos objetivos é aumentar a oferta desse tipo
de fertilizante, que está de acordo com a legislação de agricultura orgânica. A
legislação não permite o uso de fonte sintética, esclareceu Araújo, ressaltando
que o grande gargalo é ter fontes orgânicas renováveis para serem usadas na
agricultura orgânica.

Atualmente, utiliza-se a como fertilizante a torta de mamona,
que é feita com o óleo extraído dessa planta, mas não existe uma linha de
produção da torta. “Para a expansão da agricultura orgânica, é preciso ter mais
fontes que, somadas à torta de mamona, permitam a oferta de um fertilizante
nitrogenado a preço acessível”, disse.

Processo natural

Daí surgiu a ideia de potencializar um processo natural, que é a
fixação biológica de nitrogênio, de modo a colocar no mercado um produto rico
nesse elemento, com alta disponibilidade, fácil de ser usado por plantadeiras e
adubadeiras e com concentração alta o suficiente para compensar o custo com
transporte, acrescentou Araújo.

Já foram feitos os testes de campo para verificação da
eficiência do fertilizante. O projeto terá continuidade até o fim do ano que
vem, quando será iniciada a fase de interação com possíveis empresários
interessados na produção desse fertilizante.

Vantagens

Segundo Ednaldo Araújo, o N-verde é um fertilizante em que o
nitrogênio é obtido em um um processo natural de fixação biológica. Por ser
peletizado, reduz a biomassa e aumenta sua densidade, além de conseguir
padronizar a matéria-prima. “Isso dá garantia de eficiência ao produto. Um
produto que é padronizado, com eficiência comprovada e com o nitrogênio vindo
de uma fonte renovável”, enfatizou.

O pesquisador disse que o fertilizante orgânico não vem para
substituir nenhum produto, e sim para somar ao que já existe. Ele destacou a
falta de uma fonte nitrogenada para sistemas orgânicos e agroecológicos
atualmente no país. A expectativa de Araújo é que a relação custo/benefício
para os agricultores orgânicos seja menor. “Porque vai haver maior eficiência,
com uma oferta que vai depender da capacidade da demanda.”

No caso da torta de mamona, a oferta depende do resíduo que é gerado
e acumulado nas empresas que extraem o óleo da planta. Quanto ao N-verde, o
pesquisador disse acreditar que a oferta vai acompanhar a demanda. O objetivo
do projeto é buscar um produto mais barato ou similar à torta de mamona e
incentivar a expansão da agricultura orgânica.

Apesar da maior quantidade de nitrogênio (5%), a torta de mamona
acaba tendo grandes perdas quando é aplicada no campo – em torno de até 50%. O
N-verde, porém, é mais eficiente, com perdas de, no máximo, 15%. “Vai ter um
efeito residual maior”, explicou o pesquisador. Isso significa que o
fertilizante orgânico pode ser aproveitado em culturas sucessivas.

Gliricídia

O estudo é desenvolvido inicialmente nas espécies de leguminosas
perenes, mas pode também usar espécies anuais. “O foco é nas [espécies] perenes
porque, uma vez que se consegue montar a infraestrutura de coleta de biomassa,
não são necessários novos plantios. Nesse caso, entre todas as espécies, a que
mais se adaptou a essa forma de manejo foi a gliricídia [Gliricidia sepium]”.
A coleta deverá ser mecanizada, de acordo com o plano de manejo que está sendo
fechado pelos pesquisadores da Embrapa Agrobiologia. Mais adiante, outras
espécies de leguminosas poderão entrar também na linha de produção, admitiu
Araújo.

O N-verde pode ser usado em todo tipo de lavoura, mas o projeto
tem foco nas hortaliças folhosas. Há potencial grande para aplicação também em
plantas ornamentais, porque não fermenta, nem produz odor desagradável, disse
Araújo. O pesquisador ressaltou que o N-verde adapta-se bem na agricultura
urbana, no paisagismo e em hortaliças, porque tem maior valor agregado. “O
custo dele vai ser compensado para cultura de alto retorno”. De fácil aplicação
e rico em nitrogênio, o N-verde tem os nutrientes essenciais para as plantas,
como fósforo, potássio, cálcio, magnésio e enxofre, além de micronutrientes,
entre os quais o boro, ferro, manganês, molibdênio e zinco.

Estudos mostraram que, com 1 hectare de gliricídia, é possível
produzir até 6 toneladas de N-verde por ano. Essa quantidade pode variar de
acordo com o espaçamento em que for feito o plantio.


+ Agronegócios