Doria anuncia “tragédia” para início do ano letivo na rede estadual de SP

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 3 de janeiro de 2019 às 17:35
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 19:17
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Novo governador divulga, em dez dias, dados “realistas” sobre o caixa do Estado

​ Após a primeira reunião com o secretariado na sede do governo paulista, o governador João Doria (PSDB) adiantou nesta quarta-feira que alunos da rede estadual começarão as aulas em fevereiro sem professor nem material escolar .

Há ainda desconfiança de que não haverá recursos disponíveis para todas as despesas orçadas pela gestão anterior e, em dez dias, Doria prometeu divulgar dados “realistas” sobre o caixa do estado.

Por cerca de quatro horas, Doria se reuniu com seu secretariado para avaliações e definições de medidas a serem tomadas nos primeiros dias de governo. O secretário da Educação e ex-ministro de Temer, Rossieli Soares, relatou o quadro mais dramático. Segundo ele, o cenário encontrado na pasta é de “tragédia”.

Rossieli acusou a gestão do ex-governador Márcio França (PSB) de não assinar contrato para a compra de material escolar, como caderno, caneta e lápis para os alunos, e pedagógico para os professores. 

Na avaliação do secretário, não há tempo para que o problema seja contornado antes da volta às aulas. Ele não disse quando pretende normalizar a situação.

 Teremos um prejuízo gigantesco na educação para o início do ano letivo — afirmou.

O ano letivo também começará em São Paulo, de acordo com o novo gestor, sem 8.500 professores em sala de aula. Isso porque Tribunal de Justiça proibiu a contratação de novos temporários no ano passado e, com os antigos contratos expirados em 2018, não há como repor essas vagas.

— A falta desses professores poderá atingir até 2,5 milhões de alunos da rede, que podem ter alguma aula perdida. Temos prejuízo imediato para 60 mil alunos do 1º ao 5º ano que não ficarão sem nenhum professor. 

Temos municípios onde até 50% dos alunos poderão ficar sem aula, o que é uma tragédia — disse Soares.

Doria ouviu o relato do secretário aos jornalistas e, ao final, afirmou que não se tratava de uma “caça às bruxas”.

— A situação na educação é muito ruim — disse o governador. 

Meirelles promete divulgar eventuais rombos

As finanças do estado em 2019 também foram apontadas como motivo de preocupação pelo ex-ministro e atual secretário da Fazenda, Henrique Meirelles. 

Ele sugeriu a existência de uma déficit nas contas deste ano e prometeu, em dez dias, divulgar eventuais rombos orçamentários para o ano.

— Temos dez dias para ter uma visão sólida e confiável das contas reais do estado. Vamos fazer um orçamento realista — afirmou Meirelles.

Por um ameaça de falta de recursos para honrar todas as despesas previstas para 2019, o vice-governador e secretário de Governo, Rodrigo Garcia, anunciou que todos os secretários terão 30 dias para reavaliar convênios assinados com o estado. 

Ele também anunciou o cancelamento de outros assinados em dezembro pelo governo anterior. Garcia não explicou que tipo de convênios são esses.

— Foi um pacote de convênios assinados em dezembro com uma permissividade do ponto de vista jurídico. Eles estão cancelados. Nosso entendimento é de que falta documentação — explicou.

Perguntado sobre a ausência de lideranças do PSDB em sua posse, Doria disse que recebeu telefonemas na terça-feira dos ex-governadores Geraldo Alckmin e José Serra para desejar boa sorte no governo. 

Outro lado

O ex-governador Márcio França contestou a versão apresentada por Doria na entrevista. Em nota, ele informou que seu secretário de Educação deixou contrato assinado e que o fornecimento de material escolar começa em janeiro e deve estar concluído em 30 ou 40 dias.

Sobre o caixa do estado, França diz que deixou R$ 27 bi para despesas previstas e cerca de R$ 8 bilhões  em caixa livre. “Para o novo governador gastar como quiser’, informou.

Os convênios assinados em dezembro, o ex-governador disse que tratava-se de emendas impositivas para atender pleitos de parlamentares.

“Caso a bancada do novo governador não queira pagá-las é uma decisão de seus membros. Todos os convênios seguiram o ordenamento jurídico. Os convênios significam um cheque assinado pelo governador que sai. Pagá-los cabe ao governador que entra”, informou França.


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