Diretor de redação da Folha de S. Paulo, Otavio Frias Filho morre aos 61 anos

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 21 de agosto de 2018 às 07:08
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:57
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Otavio Frias Filho morreu nesta segunda-feira (20) aos 61 anos com câncer no pâncreas

Otavio Frias Filho, diretor de redação da Folha de S. Paulo, morreu nesta segunda-feira (20) aos 61 anos. Ele lutava contra um câncer no pâncreas desde o início do ano quando passou por uma cirurgia para remoção do tumor e começou a tomar medicamento quimioterápico. Idealizador de algumas das mais importantes mudanças já realizadas no jornal, dedicou a vida ao ofício do jornalismo – segundo ele, nosso “mal necessário”.

Tudo começou em 1962 quando seu pai, o empresário Octavio Frias de Oliveira, comprou a empresa que editava a Folha. Sua atuação, no entanto, iniciou-se de fato em 1975 escrevendo editoriais e assessorando Cláudio Abramo, o então diretor. Foi nessa época que os três, juntos, começaram a pensar em uma reforma editorial que acompanhasse os rumos do país. Afinal, o fim do regime militar e o início da abertura política se aproximavam.

Encabeçada por Otavio, a Folha passou a dar voz à sociedade civil e apoiou a campanha pelas “Diretas Já” em 1983. No ano seguinte, ele assumiu a direção e colocou o jornal “de cabeça para baixo”. Uma de suas primeiras medidas foi criar o Projeto Folha, determinando um conjunto de diretrizes que traduziam as linhas do veículo.

O documento diz que a Folha “se propõe a realizar um jornalismo crítico, apartidário e pluralista”, sustenta “a democracia representativa, a economia de mercado, os direitos do homem e o debate dos problemas sociais” e “adota uma atitude de independência em face a grupos de poder”. Além disso, considera “notícias e idéias como mercadorias a serem tratadas com rigor técnico” e acredita que “a democracia se baseia no atendimento livre, diversificado e eficiente da demanda coletiva por informações”.

Esses ideais foram adicionados no mesmo período ao Manual da Redação da casa. No último mês de fevereiro, esse manual foi atualizado e teve sua quinta edição lançada. Para marcar a mudança, o próprio Otávio publicou um artigo com algumas explicações não apenas sobre o texto, mas sobre seu próprio entendimento sobre o ofício.

“Ao disseminar notícias e opiniões, a prática jornalística municia seus leitores de ferramentas para um exercício mais consciente da cidadania”, disse. “Desde que comprometidos com o debate dos problemas públicos, os veículos servem como arena de ideias e soluções. O livre funcionamento das várias formas de imprensa, mesmo as de má qualidade, corresponde em seu conjunto à respiração mental da sociedade”, completou. Para finalizar, usou da acidez para fazer uma provocação. “A imprensa, que vive de cobrir crises, sempre esteve em crise”. 


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