Dieese: pandemia atrapalhou as relações de emprego doméstico

  • Bernardo Teixeira
  • Publicado em 18 de julho de 2020 às 10:50
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 20:59
compartilhar no whatsapp compartilhar no telegram compartilhar no facebook compartilhar no linkedin

Crise aguçou relações de desigualdade existentes no País, aponta levantamento do instituto

Um estudo feito pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos (Dieese) denominado “Quem cuida das cuidadoras: Trabalho doméstico remunerado em tempos de coronavírus” concluiu que a crise causada pela pandemia da Covid-19 no Brasil exacerbou as relações de desigualdade existentes no país, e o emprego doméstico foi diretamente afetado.

De acordo com o Dieese, isso ocorre tanto pelas características da ocupação quanto pela forma como o vírus atinge as relações de cuidados e afazeres domésticos no país.

Segundo a economista e técnica do Dieese Cristina Vieceli, o Brasil tem 6,23 milhões de trabalhadoras domésticas, das quais 70% não têm carteira assinada, o que revela o alto índice de informalidade no setor. 

Apenas 38% dessas trabalhadoras contribuem para a Previdência Social, o que, em situação de desemprego, as deixa desassistidas pelo sistema de seguridade e impedidas de receber auxílio-doença ou auxílio-desemprego.

“Os trabalhadores domésticos são, em sua maioria, mulheres (93%) e estão bastante vulneráveis a se tornarem desempregadas. Em função das características do trabalho, elas têm baixa remuneração e alto índice de informalidade. A baixa remuneração também as impede de fazer uma poupança para uma eventual crise”, afirmou Cristina.

O estudo do Dieese destaca que o trabalho doméstico é desempenhado principalmente por mulheres negras. Ressalta também que a média de idade das mulheres é alta, o que as coloca em situação de maior vulnerabilidade ante a pandemia. 

Além disso, boa parte delas é responsável pela renda familiar – 45% delas são chefes de domicílio, e sua renda é muito importante para a família.

Para Cristina, como os empregadores estão dentro de casa, muitos têm medo de ser contaminados pelo novo coronavírus, causador da Covid-19, o que os leva a dispensar as trabalhadoras, deixando-as em situação de fragilidade econômica. 

“Aquelas que permanecem trabalhando correm o risco de se contaminar com o vírus, já que precisam usar transporte público para se deslocar ao trabalho ou por terem mais de um vínculo de emprego e precisarem percorrer vários lugares da cidade.”

A economista enfatizou que o fechamento de creches, escolas e restaurantes tornou mais intenso o trabalho das mulheres se intensificou muito, tanto por ter que cuidar das crianças da casa onde trabalham, como por terem que cuidar de seus próprios filhos e muitas vezes não terem com quem deixá-los. 

“Boa parte das domésticas estão alocadas na categoria dos afazeres domésticos, em geral, e acabam fazendo todas as atividades dentro de casa, seja limpeza, alimentação ou cuidados com crianças e pessoas idosas. Elas também precisam cuidar de suas próprias famílias.”


+ Trabalho