De cabeça para baixo!

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 16 de abril de 2019 às 10:26
  • Modificado em 29 de outubro de 2020 às 23:46
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​Saudações paciente e quase louco leitor!

Será que o mundo está mesmo ao contrário e ninguém reparou?

As vezes tenho cá a sensação, de que está tudo de cabeça pra baixo. Tudo às avessas.

Os, outrora, loucos, hoje mostram-se mais sensatos do que muita gente lúcida por ai. Gente que refletem a vida no banheiro, que protestam no sofá, e mudam o mundo na tela de um iphone.

Vejo, por exemplo, as pessoas entrando em seus carros, enfrentando trânsitos infernais para irem a uma academia, pedalar uma bicicleta parada! Vejo gente sã procurar a farmácia, em busca de um efervescente, porque exagerou na quantidade de comida, ou seja, quer a leveza da fome na barriga saciada. Todo mundo pede a aproximação, mas, erguem muros eletrificados e se trancam do mundo em condomínios. As pessoas compram belos carros, cada vez mais velozes, mas não se visitam, mandam um zap!

Vejo gente indo à igreja, pedindo a Deus que o torne uma boa pessoa, mas, na saída, já ignora o primeiro pedinte que encontra na escadaria. Vejo gente maluca, escancarando a vida nas redes sociais, depois, protestando contra as pessoas que opinam na mesma vida que ela acabou de expor. Tenho visto gente processando o ex companheiros, por divulgar vídeos de sua intimidade, dizendo-se constrangidos, mas, se era pra não ser revelado, porque cargas d’águas arquivar o momento em um dispositivo de fácil acesso?

Gente maluca essa, que vai à shows e, ao invés de assisti-los, fica filmando no celular, mas, se era para assistir por uma tela, não precisava ter ido, bastava assistir na televisão! Vejo líderes religiosos promovendo a cura de seus fiéis, através de ato de fé, mas, quando se trata de sua própria cura, recorrem a hospitais!

Tem gente querendo acabar com a fome, desperdiçando alimento. Vejo miseráveis seres bondosos, misericordiosos com os cães, mas, extremamente impiedosos com os seus pares. E como não falar de verdadeiros “cristãos” defendendo pena de morte, e outros endurecimentos, que nada mais é, senão vingança.

As pessoas gastam a saúde tentando acumular dinheiro para se remediar na velhice. Lutam por conquistar uma bela e espaçosa casa, mas, dão de ombros para se edificar um lar, construir um relacionamento honesto com quem a habitará. Busca-se dinheiro, esquecem-se os valores. Tudo está se profissionalizando e se humanizando cada dia menos.

Gente maluca é essa que diz gostar de ouvir música mas, há tempos aboliram as belas letras e as substituíram por sons.

As pessoas acordam disposta a abraçar o mundo, mas, não abraçam sequer os próprios filhos. Gente construindo relógios para quem nunca tem tempo.

Gente maluca essa, que esfola a pele de emissoras de televisão, mas, não mudam de canal.

Não sei onde está o botão, e se há de fato uma maneira de se “resetar” está m…. ufa! mais uma vez, salvo pela nesga de lucides que ainda se conserva incrustrada em meu ser, caso contrário, estaria demitido por propor um palavrão. Aliás nesta atmosfera onde reina o politicamente correto nem sei se ser raiz é primitivo ultrapassado, ou ser modinha é efeminado e prepotente. Aliás, peço que parem este mundo um instante. Stop Please! Pois, há muito me atrapalhei com a coreografia desta dança confusa, e nesse gira-gira já nem sei mais de que lado estou, certo ou errado. Faz tempo que não sei se posso brincar no carnaval, sem ser acusado de ferir valores sociais, ou se fico em casa, dissertando sobre a futilidade deste festejo. Não sei se posso ter postura conservadora e ser classificado como extremista, nazista, ou pobre metido a besta, ou se posso defender a bandeira do socialismo e ser chamado de imbecil, comunista, esquerdopata e anarquista. Não sei se como alface em protesto à matança de animais, ou faço um churrasco para não ser taxado como esnobe. Não sei se posso dormir de meia e ser chamado de modinha, ou se ando nu e acompanho a moda.

Não sei se posso sorrir para uma criança, e assim me tornar suspeito de pedofilia, ou a ignoro e recebo rótulo de desalmado. Não sei se escrevo e aceito a pilheria de um “pseudo intelectual” ou, se abandono de vez as palavras e aceito o rótulo de analfabeto social.

A verdade, confuso paciente leitor, é que tanto eu, como você, há muito perdemos o passo, estamos sacolejando o corpo, tentando acompanhar ou ser acompanhado, acreditando que o sacolejar maciço é que fará de fato alguma mudança neste ritmo frenético, cá entre nós, não fará, portanto sacoleje seu corpo à sua maneira, de qualquer forma, o maluco sempre será você

.*Essa coluna é semanal e atualizada às quartas-feiras.


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