Congresso médico mostra técnica francesa para o tratamento de varizes

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 15 de novembro de 2018 às 21:44
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 19:10
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Varizes podem estar associadas a embolia pulmonar, infertilidade e até câncer, em homens e mulheres

Realizado no Rio de Janeiro, o 1º Congresso de
Flebologia Francesa e Brasileira (Phleborio 2018), teve como um dos principais
objetivos discutir como as varizes podem estar associadas a problemas como
embolia pulmonar, infertilidade e até câncer, em mulheres e homens. A
flebologia é o ramo da medicina que estuda a anatomia e as doenças das veias.

O Phleborio 2018 trouxe para o Brasil o curso
teórico de formação em flebologia, voltado para angiologistas e cirurgiões
vasculares, sobre o uso da técnica francesa de tratamento de varizes com espuma
densa, guiada por aparelho de ultrassonografia.

Essa técnica é indicada para varizes de grosso calibre,
como veia safena interna e externa, veias perfurantes e colaterais
insuficientes em planos anatômicos subcutâneos.

O especialista em flebologia pela Université Pierre
& Marie-Curie de Paris e presidente do congresso, o cirurgião vascular e
angiologista brasileiro Kennedy Gonçalves Pachêco, disse que essa técnica é
usada no país inteiro, mas os médicos não seguem a única escola oficial do
mundo, que é a francesa.

Pachêco informou que a escola francesa diverge da
escola anglo-saxônica desde 1944 porque, ao contrário dos ingleses que optam
pela cirurgia, os especialistas franceses preferem não operar. “Em vez de
arrancar uma veia, a gente entra dentro dela, coloca um remédio e elimina
aquela veia”, disse.

Segundo ele, essa técnica é chamada escleroterapia,
que significa endurecer veia. Esta é uma das novidades no campo do tratamento
de varizes de membros inferiores, sem cirurgia, sem internação, sem anestesia”,
acrescentando que o tratamento oferece bons resultados, com baixas complicações.

Testículos e ovários

Outra novidade que o evento abordará é a existência
de varizes ao lado dos ovários e dos testículos. Os primeiros trabalhos já
publicados no mundo demonstram que todo paciente que tem câncer ou tumor de
próstata, hiperplasia (aumento do tamanho de um órgão) ou urgência urinária tem
varizes ao lado dos testículos. “Os trabalhos mostram que, ao tratar das
varizes, a próstata diminui de volume, os hormônios normalizam, desaparecem os
sistemas desconfortantes de noctúria, que é levantar de cinco a oito vezes à
noite para urinar”.

Kennedy Pachêco revelou que de seis pacientes de um
projeto-piloto tratados de varicocele (dilatação das veias do cordão que
sustenta os testículos) e que tinham câncer, cinco ficaram negativos para
célula cancerígena. O congresso pretende mostrar aos departamentos médicos
brasileiros que aquelas varizes que causam inchaço ou úlceras na perna, mudança
de cor da pele, da mesma forma que provocam alterações na perna, provocam na
próstata também e isso podendo repercutir em doenças. “Esse é o grande
assunto”, disse o médico.

Técnica mista

Como a técnica é nova, os especialistas franceses e
brasileiros em flebologia pretendem mudar o modelo existente, introduzindo a
técnica mista que usa a espuma densa e uma mola metálica. “É como se você
colocasse cimento com ferro para fazer uma cicatrização sólida. A gente coloca
a espuma porque depois que o efeito causa uma inflamação para depois destruir a
varize, no processo de cicatrização pode haver uma recanalização. Para não
haver reabertura, a gente coloca junto uma mola metálica, que continua
estimulando indefinidamente para levar a uma completa cicatrização e
desaparecimento das varizes naquele local indesejado”.

A ideia é levar essa técnica para as universidades
e departamentos médicos, visando estimular mais pesquisas. Kennedy Pachêco
destacou que, nos homens, já está provado que a presença de varizes junto dos
testículos pode levar à infertilidade. A discussão agora é se as varizes
ovarianas, isto é, as varizes existentes nos ovários femininos, podem levar
também à infertilidade. Durante o congresso, serão apresentados diversos
relatos de literatura de pacientes que foram tratadas de varizes e
engravidaram.

Risco para câncer

O presidente do evento sublinhou que a
infertilidade aumenta o risco para câncer, tanto no homem como na mulher.
Experiências feitas por Pachêco mostram que em pacientes com endometriose
(crescimento anormal de tecido fora do revestimento uterino), a taxa de
infertilidade é muito alta e também a taxa de transformação em câncer.

Ele sustentou a necessidade de serem feitas mais
pesquisas sobre as varizes ovarianas pelas alterações que podem produzir nas
mulheres. Essa é a grande novidade do congresso, disse o especialista: “Varizes
ao lado dos testículos e dos ovários mudam a forma e a função do reloginho
masculino e feminino”.

O evento englobará o Encontro Multidisciplinar de
Ginecologia, Endocrinologia, Urologia e Angiologia. Nos dias 16 e 17 de
novembro, será promovido o Curso Teórico de Formação em Flebologia Francesa e
Brasileira, voltado para angiologistas e cirurgiões vasculares.

Kennedy Pachêco informou ainda que para os médicos
que participarem do curso teórico e desejarem se aprofundar no assunto, haverá
uma etapa prática, com duração de seis dias, visando treinar os profissionais a
executarem corretamente o método francês em seus consultórios. Para os médicos
que desejarem ampliar ainda mais o seu treinamento, será oferecido um estágio
prático em consultórios no Brasil e na França.


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