Iniciar pelo exercício mais fácil e outros erros que os alunos fazem nas provas

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 28 de outubro de 2019 às 11:49
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 19:58
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As pessoas pensam, equivocadamente, que se conseguirem reduzir o estresse diante da prova, vão se sair melhor

 Nem sempre nossas estratégias usadas em provas têm embasamento científico ou são eficazes para o aprendizado

Estudar horas a fio na noite anterior à prova e começar o exame pelo exercício mais fácil são estratégias comumente usadas por muitos estudantes, em especial em tempos de Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), vestibulares e provas finais.

Mas será que essas estratégias realmente nos fazem aprender ou nos sair melhor nas provas? 

Um livro de dois pesquisadores americanos e um britânico especializados em neurociência desmistifica algumas táticas de estudo e dá sugestões com embasamento científico para estudar e ir bem nas provas.

“As pessoas muitas vezes pensam, equivocadamente, que se conseguirem reduzir o estresse diante da prova, vão se sair melhor. Mas a razão de seu estresse não é o teste em si, e sim que elas não sabem estudar corretamente nas semanas e meses antes do teste”.

O pensamento foi formulado por e-mail à BBC News Brasil, pela pesquisadora Barbara Oakley, uma das autoras do livro Aprendendo a Aprender para Crianças e Adolescentes: Como se Dar Bem na Escola (editora Best Seller).

“Fazer isso com mais eficiência pode resultar em uma enorme diferença em seu desempenho nas provas e na vida.”

A seguir, algumas dicas do livro coescrito por Oakley:

Varar a noite estudando na véspera da prova não ajuda o cérebro a aprender

Aprender, na prática, consiste em criar novas (ou mais fortes) correntes cerebrais em nosso cérebro. Quanto mais praticamos essas coisas e acrescentamos complexidade ao aprendizado, mais fortes e compridas ficam essas correntes.

Ao varar a noite estudando na véspera da prova, você não dará ao cérebro tempo para fortalecer as correntes cerebrais daquele determinado assunto, nem o descanso necessário para ele solidificar esse aprendizado, afirma o livro.

“Tempo e treino trabalham juntos para ajudá-lo a cimentar as ideias no seu cérebro. Se o tempo é curto, você não consegue criar novas estruturas no cérebro e ainda perde energia preocupando-se com isso”, agrega Oakley.

Qual, então, é a melhor estratégia para aprender?

Varar a noite estudando na véspera da prova não dá ao cérebro tempo para fortalecer as correntes cerebrais daquele determinado assunto, nem o descanso necessário para ele solidificar o aprendizado

Revisar logo, e constantemente, é mais eficaz do que passar horas estudando na véspera

“Quando aprendemos algo novo, precisamos revisá-lo logo, antes que as espinhas dendríticas e as conexões sinápticas (termos técnicos que se referem à atividade em nossos neurônios durante a aprendizagem) comecem a desaparecer”. 

“Se elas desaparecerem, temos que começar o processo de aprendizagem todo novamente”, explica Oakley no livro.

Por conta disso, ela sugere que, ao longo dos estudos para a prova — e não só na véspera —, façamos o seguinte:

Revisar o conteúdo assim que ele for aprendido, para reforçar as correntes cerebrais ligadas a aquele aprendizado, evitando perdê-las;

Manter vivas as ideias-chave daquele conteúdo; tente lembrar dessas ideias em voz alta, sem lê-las no papel, ou explicá-las a alguém. Isso vai fixar a informação na sua cabeça.

Estudar um pouco, por vários dias. Isso também ajuda a reforçar o conhecimento dentro do cérebro.

Começar pelo exercício difícil, em vez do fácil

“Por muitos anos, os alunos ouviram que devem começar a prova pelos problemas fáceis”, explica Oakley.

“A neurociência diz que isso não é uma boa ideia.” Isso porque você pode usar as questões mais fáceis a seu favor, quando estiver empacado nas mais difíceis.

Nosso cérebro, diz Oakley, trabalha de dois jeitos diferentes, que se complementam no aprendizado: o modo focado (quando estamos prestando atenção a um exercício, a um filme ou ao professor, por exemplo) e o modo difuso (quando o cérebro está relaxado).

E relaxar a mente muitas vezes permite encontrar soluções para problemas – é o motivo pelo qual às vezes temos boas ideias durante caminhadas ou depois de uma boa noite de sono, período em que o cérebro entra no modo difuso.

Sendo assim, passar de um exercício difícil para um mais fácil pode colocar o cérebro nesse modo mais relaxado, o que pode ajudá-lo a resolver a questão inicial.

Cientista sugere revisar o conteúdo assim que ele for aprendido, para reforçar as correntes cerebrais ligadas a aquele aprendizado, evitando perdê-las

“Quando começar a prova, olhe-a rapidamente por inteira. Marque as questões que achar mais difíceis. Escolha uma delas e comece a trabalhar, por mais ou menos dois minutos ou até se sentir empacado”.

“Quando empacar, pare. Procure uma questão mais fácil para aumentar sua confiança; resolva uma ou duas questões fáceis e então volte à difícil. Talvez agora você consiga progredir um pouco.”

Prestar atenção ao ‘pensamento viciado’

Se sobrar tempo ao final da prova, tente revisar as questões em uma ordem diferente da qual fez inicialmente. Isso pode ajudá-lo a questionar: será que a minha resposta para cada exercício realmente fez sentido?

“Assim que escrevemos a resposta para uma questão, é fácil pensar que ela está correta”, diz Oakley.

“Tente fazer sua mente olhar para as questões de novo, com novos olhos. (…) Sua mente pode levar você a pensar que o que fez está correto, mesmo que não esteja. Sempre que possível, pisque, desvie sua atenção e verifique suas respostas.”

Dormir bem e fazer atividades físicas ajudam, e muito, o cérebro

Oakley compara o sono à “argamassa que consolida as paredes do aprendizado” no cérebro. É dormindo, diz ela, que o cérebro ensaia o que aprendeu durante o dia, fortalece as correntes de aprendizado e elimina toxinas.

“Quanto mais você aprende, pratica e dorme, mais espinhas dendríticas e conexões sinápticas (os termos técnicos referentes à atividade dos neurônios durante a aprendizagem) são formadas”, explica o livro.

Além disso, praticar atividades físicas não faz só bem ao corpo, como também ao cérebro. O exercício físico faz novos neurônios crescerem, além de proporcionar momentos ótimos para estimular o modo difuso (relaxado) do cérebro, essencial ao aprendizado.


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