Com malas de dinheiro, a corrupção rouba o nosso futuro e mata nossa alma

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 6 de setembro de 2017 às 08:42
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:20
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Cada real daqueles mais de 42 milhões apreendidos saiu da mesa de um brasileiro em forma de imposto

Hoje o Brasil acordou com um novo recorde: a apreensão feita ontem pela Polícia Federal em Salvador, BA, após contabilizada, revelou um número fabuloso: R$ 42.643,500 (quarenta e dois milhões, seiscentos e quarenta e três mil e quinhentos reais).

Isso mesmo. Esse foi o total de reais apreendidos em um apartamento supostamente mantido pelo ex-ministro Geddel Vieira. E, se não bastasse essa alta soma, foram ainda apreendidos US$ 2,688,000.00 (dois milhões, seiscentos e oitenta e oito mil dólares).

Para o cidadão comum, como eu, o primeiro grande desafio quando escuto notícias como essa é pensar em quanto dinheiro isso representa. 

Mas ontem, com a divulgação da foto daquela sala cheia de malas e caixas (caixas!) de dinheiro vivo, pude ter uma vaga ideia.

Mas, o que leva um político a roubar desse jeito? 

Em “House of Cards”, seriado produzido e exibido pela Netflix, Frank Underwood, o congressista inescrupuloso, protagonista da série, logo nos primeiros episódios revela: “Certos políticos escolhem dinheiro, outros, poder”. 

E o caso de ontem deixa claro que Geddel é do primeiro tipo: aceita o calvário do poder para desviar um dinheiro que muitos acreditam ser público, mas que não é. 

Cada real daqueles mais de 42 milhões apreendidos saiu da mesa de um brasileiro em forma de imposto, e o que resta ao nosso povo sofrido, é na semana do pagamento refletir sobre seus esforços e concluir que é quase tudo em vão, pois somos sugados por políticos mesquinhos. 

Não nos falta a capacidade de produzir riqueza, de buscar viver dignamente e almejar a tranquilidade para pagar as contas, nos faltam meios.

Assim que li as notícias sobre o volume de dinheiro apreendido, me peguei pensando em números. 

Nós, brasileiros, carentes de tudo, poderíamos ver quantas famílias darem adeus ao aluguel ao serem contempladas com casas populares construídas com o montante apreendido? 

Cerca de 800? Um pouco mais? Um pouco menos? 

Quantos professores ou policiais com os salários atrasados, como os do Rio de Janeiro, poderiam ser pagos com esse montante, que representa quase 45 mil salários mínimos? 

Quantos pacientes com artrite reumatoide poderiam ter seus tratamentos com adalimumabe garantidos por um período de um ano, somente com os reais apreendidos no tal apartamento em Salvador? 

É isso que políticos como Geddel nos tiram, habitação, educação, segurança e saúde, e não dinheiro…

Episódios como o de ontem, não apenas roubam nosso futuro, mas matam nossa alma, fazendo com que o povo brasileiro deixe de acreditar que será possível sair dessa, de que será possível virar a página e evoluir como nação. 

Episódios como o de ontem só revelam o quanto somos desvalidos e o quanto a impunidade é o câncer que está matando o Brasil.

Que Deus nos proteja.

João Paulo Vani 

É Presidente da Academia Brasileira de Escritores, Mestre em Teoria Literária e Doutorando em Letras pelo Programa de Pós-Graduação em Letras da Unesp de São José do Rio Preto. 

Contato: [email protected]


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