Com apoio da Unicamp, pesquisa investiga enzima que degrada plástico

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 24 de abril de 2018 às 00:13
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:41
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Descoberta de um grupo internacional de cientistas pode contribuir para minimizar poluição

Metade da produção
anual brasileira de PET, estimada em 550 mil toneladas, não é reciclada e tem
como destino os aterros, lixões e rios, gerando um sério problema ambiental
para o Brasil. No mundo, o quadro é ainda mais grave: cerca de oito milhões de
toneladas de recipientes plásticos são lançadas todos os anos nos oceanos.

Uma descoberta recente de um grupo internacional de
cientistas, com participação de especialistas da Universidade de Campinas
(Unicamp), pode contribuir para minimizar esse tipo de poluição.

Os pesquisadores
desenvolveram uma enzima, denominada PETase, que degrada com eficiência o PET.
A substância divide o material polimérico em pequenas unidades, favorecendo
assim a sua reciclagem.

O grupo responsável pelo estudo reúne pesquisadores
da Universidade de Portsmouth (Reino Unido), do Laboratório Nacional de
Energias Renováveis (NREL, Estados Unidos) e da Unicamp, mais especificamente
do Centro de Pesquisa em Engenharia e Ciências Computacionais – um dos Centros
de Pesquisa, Inovação e Difusão financiados pela Fundação de Amparo à Pesquisa
do Estado de São Paulo (Fapesp), sediado no Instituto de Química da
universidade.

Participaram diretamente da pesquisa o
pós-doutorando Rodrigo Leandro Silveira e seu supervisor, o professor Munir
Skaf, que também responde pela direção do centro e pela Pró-Reitoria de
Pesquisa. Rodrigo Leandro Silveira conta que o trabalho teve início após a
descoberta, por uma equipe japonesa, em 2016, de uma bactéria encontrada na
natureza batizada de Ideonella sakaiensis.

Investigação

Ao analisar o organismo, os japoneses constataram
que ele utilizava o PET como fonte de energia. Em uma linguagem mais popular, a
bactéria “devorava” o plástico em poucos dias, processo que a natureza levaria
dezenas de anos para fazer. Os cientistas verificaram também que a responsável
pelo processo de degradação do polímero era a PETase.

A partir desse ponto, a investigação entrou na
segunda etapa, envolvendo os outros três centros de pesquisa. “Inicialmente,
foi feito um esforço para obter a estrutura tridimensional da enzima e,
posteriormente, coube à equipe da Unicamp utilizar modelos computacionais para
entender seu funcionamento em nível molecular”, explica Rodrigo Leandro
Silveira.

O professor Munir Skaf esclarece, porém, que a ação
da PETase não faz com que polímero desapareça completamente. Sobram pequenas
moléculas, que podem ser transformadas em matéria-prima para a fabricação de
inúmeros produtos, que vão desde fármacos até biocombustíveis. “O próximo passo
será compreender um pouco mais sobre o mecanismo de degradação, para depois
tentarmos melhorar ainda mais essa enzima. A última etapa será produzi-la em
escala industrial, de modo que possa ser utilizada largamente nos processos de
reciclagem”, adianta o pró-reitor de Pesquisa.

O estudo rendeu
artigo publicado na revista Proceedings of the National
Academy of Sciences
, uma das mais prestigiadas do mundo.


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