Cientistas conseguem identificar ‘melhor idade’ para aprender outro idioma

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 13 de maio de 2018 às 12:39
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:44
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Ao começar a aprender aos 10 anos, a pessoa tem mais chance de se tornar um falante fluente da língua

Há uma janela de oportunidade etária para aprender idiomas
com fluência, segundo uma pesquisa recém-divulgada do MIT (Massachusetts
Institute of Technology), o famoso centro interdisciplinar de pesquisa dos EUA.

O
tema não é alvo de consenso entre pesquisadores, mas o estudo do MIT indica que
se você quer ter conhecimento gramatical de inglês como um nativo, deve tentar
começar a estudar essa língua por volta dos 10 anos de idade. Depois disso, diz
a pesquisa, torna “praticamente impossível alcançar proficiência
semelhante a um falante nativo” do idioma.

Adolescentes
continuam a ter habilidade aguçada para idiomas até os 17 ou 18 anos – mais
tempo do que se pensava previamente. Mas, entrando na vida adulta, essa
capacidade começa a se perder.

Cientistas
já sabiam que o bilinguismo (ou mesmo o multilinguismo) deve ser praticado até
com bebês, como uma forma até de estimular o cérebro e o desenvolvimento de
habilidades essenciais na vida adulta, tais quais concentração e controle
emocional. Mas até agora, segundo o MIT, havia pouca certeza a respeito de qual
seria o período considerado “ideal” para aprendizado de outros idiomas. “Não
vemos muitas diferenças entre pessoas que começaram (a aprender um idioma) a
partir do nascimento ou que começaram aos 10 anos, mas vemos um declínio depois
dessa idade”, diz, em comunicado do MIT, Joshua Hartshorne, professor de
Psicologia e coautor da pesquisa, a qual é seu projeto de pós-doutorado.

Quiz

As descobertas, publicadas no periódico especializado Cognition,
foram elaboradas a partir de um teste gramatical (em inglês) realizado via
Facebook por quase 670 mil pessoas de diferentes idades e nacionalidades.

As perguntas do quiz visavam testar a capacidade dos
participantes de determinar se frases em inglês, como “Yesterday John
wanted to won the race”, estão gramaticalmente corretas.

O teste perguntava ainda a idade dos participantes, há quanto
tempo eles estudam inglês e em que circunstâncias – eles por acaso se mudaram
para um país de língua inglesa?

Cerca de 246 mil dos 370 mil participantes cresceram ouvindo
apenas inglês, enquanto os demais eram bilíngues ou multilíngues, de origens
finlandesa, turca, alemã, russa ou húngara, por exemplo. A maioria tinha entre
20 e 30 e poucos anos.

Ao analisar os dados, usando um modelo computadorizado, os
pesquisadores confirmaram que o aprendizado de gramática de um idioma é mais
robusto durante a infância, prossegue na adolescência e depois se torna bem
mais difícil na vida adulta.

Persistência

Não está claro por que há uma queda nas habilidades de
aprendizado aos 18 anos. Cientistas atribuem isso ao fato de o cérebro ficar
menos mutável ou adaptável na vida adulta. “Pode ser uma mudança biológica
ou algo social ou cultural”, diz Josh Tenenbaum, coautor do estudo e
professor de Ciências Cognitivas no MIT. “Em geral, a idade de 17 e 18
anos é o período em que muitas sociedades deixam de considerar uma pessoa menor
de idade. Depois disso, ela (jovem) muitas vezes sai de casa, ou talvez comece
a trabalhar em tempo integral ou vá estudar algo específico na universidade.
Tudo isso pode afetar seu ritmo de aprendizado de qualquer idioma.”

Mas adultos não devem perder o ânimo em aprender um idioma:
apesar das dificuldades maiores em relação às crianças, eles também são capazes
de adquirir um bom conhecimento da língua, dizem os pesquisadores.

Além disso, aprender um novo idioma na vida adulta faz bem ao
cérebro e pode até mesmo retardar possíveis doenças de degeneração cerebral,
como a demência, segundo outras pesquisas prévias.

E
mesmo as conclusões do MIT são alvo de questionamento: “A ideia de que
você não consegue alcançar habilidade semelhante à de um nativo se não começar
cedo é questionável. Há casos raros (disso), mas eles existem e são
documentados”, diz a professora Marilyn Vihman, do Departamento de
Linguagem da Universidade de York (Reino Unido). “Há pessoas que com 20 e
poucos anos aprendem novos idiomas a ponto de se tornarem espiões. Não acredito
que haja uma idade crítica, apenas uma estabilização (nas habilidades) após a
adolescência, para a maioria, mas não a totalidade dos falantes.”

A
pesquisadora Danijela Trenkic, também da Universidade de York, destacou que o
estudo do MIT lidou com apenas um aspecto da linguagem: a gramática. “Você
pode ser um excelente comunicador, mesmo sem ser um falante nativo ou mesmo sem
acertar a gramática de todas as sentenças”, diz ela.

O MIT
diz que a abordagem adotada – o quiz online – permitiu aos estudiosos fazer
diagnósticos do conhecimento idiomático “de centenas de milhares de
pessoas em diferentes estágios de aprendizagem. Ao medir a habilidade
gramatical de pessoas de diferentes idades, que começaram a aprender inglês em
diferentes momentos de suas vidas, (os pesquisadores) conseguiram obter dados
suficientes para diversas conclusões significativas”, como as mencionadas
acima. “Há muitas outras coisas nesses dados que ainda podem ser
analisadas”, diz Hartshorne. “Queremos atrair a atenção de outros
cientistas para o fato de que esses dados estão disponíveis e podem ser
usados.”


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