Casos de miopia aumentam quase 90% no Brasil, de acordo com OMS

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 21 de setembro de 2018 às 21:41
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 19:02
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Aumento está acima da média global – uso de telas eletrônicas é variável importante como causa

Pesquisa
da OMS (Organização Mundial da Saúde) aponta que a prevalência global da miopia
e alta miopia estão em ascensão no mundo todo, mas no Brasil avança mais que a
média global.

De acordo com o
oftalmologista Leôncio Queiroz Neto do Instituto Penido Burnier, a miopia,
dificuldade de enxergar de longe, ainda é pouco compreendida.

Para ele, o esforço
visual contínuo para perto, imposto pelo uso sem pausas das telas eletrônicas é
uma variável importante do aumento da miopia, conforme ficou demonstrado em um
estudo que realizou com 360 crianças. Outro fator ambiental, comenta, é a baixa
concentração nos olhos da dopamina, hormônio ativado nas atividades externas
pelo sol que está relacionado ao crescimento axial do olho.

É justamente este
crescimento do olho, observa, a linha divisória para o aumento mais acelerado
da alta miopia, acima de 5 graus, no Brasil do que no restante do mundo.

O banco de dados da
OMS mostra que de 2020 a 2040 a alta miopia no Brasil aumenta 89%. Passa de 6,8
milhões casos para 12,9 milhões. No âmbito mundial o crescimento no mesmo
período atinge 49%, passando de 399,4 milhões de casos para 596,51 milhões.

O oftalmologista
afirma que a maior propagação da alta miopia no país é uma grave questão da
saúde pública. Isso porque pode desencadear descolamento da retina, catarata e
glaucoma, importantes causas de perda da visão.

Descolamento da retina

Ele explica que o
crescimento axial do olho afina a retina, membrana no fundo do olho responsável
pela visão. Por isso, pondera, a alta miopia é uma importante causa do
descolamento da retina, separação entre a camada superior, epitélio, e os vasos
sanguíneos que fornecem oxigênio e nutrientes essenciais para a saúde
retiniana.

Sintomas

Queiroz Neto destaca
que nem sempre o descolamento apresenta sintomas. Por isso, o acompanhamento
periódico, especialmente entre os que têm grau mais elevados pode prevenir
danos graves à visão. Para se ter ideia, 7 em cada 10 descolamentos acontecem
entre maiores de 60 anos, mas podem acontecer picos dos 20 aos 30 anos em quem
tem miopia muito alta.

Quando ocorrem, os
sinais mais frequentes são: enxergar flashes de luz, pequenos pontos pretos ou
moscas volantes e uma cortina sobre a visão que indicam emergência em passar
por consulta oftalmológica

Outros grupos de risco

O oftalmologista
ressalta que o descolamento da retina também pode acontecer por traumas,
inflamações cório-retinianas, alterações no vítreo decorrente da idade, e
doenças como o diabetes ou hipertensão maligna porque formam novos vasos na
retina que dificultam a circulação e podem romper por serem mais frágeis.

Foram os traumas em
campo, comenta, que afastaram Tostão do campo de futebol e que explicam o
descolamento de retina sofrido por Pelé.

Tratamento

Queiroz Neto afirma
que quanto mais rápido o atendimento médico, maiores as chances de reabilitar a
visão. Por exemplo, comenta, quando acontece uma ruptura da retina o
descolamento pode ser prevenido com aplicação ambulatorial de laser ou crioterapia
(congelamento) que sela a retina no fundo do olho.

As principais
técnicas cirúrgicas para reabilitar o descolamento são:

Retinopexia
convencional em que uma faixa flexível de silicone empurra a retina para a
parede do olho.

Retinopexia
pneumática
que consiste em injetar uma bolha de no olho para empurrar a retina.

Vitrectomia em que o
gel vítreo do olho é retirado e substituído por gás ou óleo de silicone

Prevenção

”Muitas pessoas
acreditam que o tratamento da miopia consiste em usar óculos ou lente de
contato. Não é bem assim. Quem tem mais de cinco graus precisa fazer exames de
fundo de olho periodicamente para prevenir complicações que podem cegar”,
afirma.

Depois de instalada
a miopia não regride, mas estudos demostram que o colírio de Atropina diluído a
0,01% interrompe um em cada dois casos de alta miopia na infância, período em
que a progressão é mais intensa. A terapia é indicada até a idade de 15 anos
nos casos de variação de 0,5 grau a cada seis meses. O tratamento deve ser
feito por, no mínimo, 2 anos e sempre com acompanhamento médico porque a
atropina em maior concentração pode levar ao glaucoma.

Implante é mais seguro que lente

Conviver com a alta
miopia não é fácil porque 85% de nossa integração com o meio ambiente depende
da visão. Queiroz Neto afirma que muitos preferem usar lente de contato para
fugir do limitado campo visual imposto pelos óculos. A boa notícia para quem
tem mais de 5 a 20 graus de miopia é que pode se livrar dos óculos com o
implante de uma lente entre a íris, parte colorida do olho e o cristalino. Uma
metanálise da Cochrane mostra que este implante é mais seguro que a troca
constante de lentes de contato. O médico explica que a cirurgia não retira o
cristalino e só pode ser feita em quem tem o grau estabilizado há, no mínimo,
um ano, não tem alterações na córnea, retina ou glaucoma. Não é o fim da alta
miopia, mas quem já fez a cirurgia ganhou uma nova vida, conclui.


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