Cultura, história, gastronomia e ecoturismo definem Carmo do Rio Claro (MG)
Carmo do Rio Claro prova a expressão que dize haver “muitos Brasis a serem descobertos dentro do Brasil”. Localizado no sul de Minas Gerais, o município é marcado pelos biomas do Cerrado e da Mata Atlântica e exibe grande potencial turístico. O empenho dos empresários locais é um impulso e tanto para colocá-lo em destaque no mapa do Turismo nacional.
“Eu sempre tive em mente que o Turismo seria mola propulsora para nossa cidade. A natureza propõe um turismo tranquilo com cachoeiras, lavouras e fazendas antigas. Com a criação da Asceturis, o poder público está à disposição para fornecer a estrutura necessária para impulsionar o setor”, declara Sebastião César Lemos, prefeito de Carmo do Rio Claro.
Com três de suas fronteiras banhadas pelo Lago de Furnas – o Mar de Minas, como é chamado – em uma área de 212 km², a cidade de 21.268 habitantes, segundo dados de 2020 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), se destaca pela cultura, artesanato e produção agropecuária, tendo os dois últimos, forte impacto na economia local.
Uma joia a ser lapidada
O destino já é conhecido entre os adeptos do turismo rural, segmento que propicia um leque de atividades que vão de passeio a cavalo e roteiros off road à visitação e vivência nas fazendas. Estabelecimentos como o Hotel Fazenda Tormenta complementam a experiência com oferta de contato com os animais do campo aliado ao conforto de um bom serviço hoteleiro.
Devido ao relevo local, tanto os passeios náuticos quanto os terrestres permitem a chegada de deficientes e pessoas com baixa mobilidade, já que eles são operados por veículos adaptados e os atrativos são acessados facilmente, sem a necessidade de percorrer uma trilha, por exemplo.
Áreas naturais, como as cachoeiras, ainda requerem trabalho de infraestrutura – com a instalação de rampas, corrimãos, banheiros e lixeiras –, fiscalização e itens como coletes salva-vidas para combinar preservação do meio ambiente, segurança e conforto do visitante.
Marly Lemos, presidente da Asceturis, revela que as demandas identificadas estão em estudo. “A associação foi criada há dois meses e estamos nos organizando para ter o estudo de impacto ambiental para trabalhar em cima da capacidade dos estabelecimentos e atrativos. Não queremos turismo de massa, mas que o turista se divirta com tranquilidade. Carmo do Rio Claro está entre os municípios com menor índice de violência e, para quem mora em cidade grande, esse é um aspecto importante”, afirma.
Ela pontua que a visão de turismo como negócio vem sendo incentivada e ainda requer investimento. “Estamos criando projetos e buscando apoio do poder público para infraestrutura e capacitação, além de fazer parcerias com a iniciativa privada”, explica. A prefeitura oferece incentivos fiscais por dez anos para as empresas optantes que cumprirem certos requisitos.
Uma das boas notícias recentes é que a cidade será contemplada com um repasse do Ministério do Turismo para reformar o acesso à capela de Nossa Senhora da Aparecida, localizada no alto da Serra da Tormenta, uma área de turismo religioso. “Como associação, visamos controlar o acesso por meio da venda de ingressos para, assim, promover a preservação, mover a economia e evitar a superlotação”, ressalta Marly.
Para que os projetos da Asceturis saiam do papel, com apoio financeiro municipal, é necessário que o prefeito eleito para o mandato 2021-2024 enxergue o segmento como catalisador para o desenvolvimento da cidade. Marly adianta que todos os candidatos contatados pela associação manifestaram interesse em criar uma secretaria técnica de turismo.
História e tradição
Um dos espaços mais curiosos em Carmo do Rio Claro é o Museu de Arqueologia Indígena, ponto de parada obrigatório para amantes de história. No acervo, há mais de quatro mil itens fabricados pelos índios Catú-Auá, que em tupi-guarani, significa “homem bom”. Quando o nível de água na represa está baixo, é possível conhecer os sítios arqueológicos.
Dentre as peças, há lanças, joias, urnas funerárias, cachimbos, restos mortais de humanos e animais. O patrimônio, construído de forma colaborativa pelos moradores da região, começou em 1932 quando Flávia Leite e Antonio Leite encontraram duas lâminas de machado polido e uma quebra coco por acidente.
Moradores de outras propriedades passaram a entregar seus achados a Antonio e a raridade dos tesouros com mais de nove mil anos, colecionados por cinco décadas, despertou o interesse de universidades e institutos especializados. Há dez anos, filha de Antonio e atual curadora do museu, conseguiu um espaço público e passou a exibir os achados locais. “Meu pai guardava as peças em casa até que não tínhamos mais lugar para colocar. Instalamos o museu e é frequente que arqueologistas venham estudar os artefatos”, conta.
Devido às restrições da pandemia, o Museu ainda fechado para visitação pública. O período está sendo usado para a construção de uma rampa de acesso para cadeirantes.
Outro ponto imperdível é a Associação dos Artesãos de Carmo do Rio Claro, espaço para confecção e venda de brinquedos, vestimentas e artigos de decoração a partir do tear. Carmo do Rio Claro é conhecida como a capital da tecelagem artesanal.
Miriângela Marques, artesã local, explica que o tear chegou para a fabricação dos sacos de estopa que armazenavam café. A máquina feita em madeira era guardada no porão das residências. “Com o tempo, saímos do estilo rústico e, hoje, conseguimos produzir vestimentas. Na associação, promovemos visitas e cursos para ensinar sobre o processo de criação das peças”, conta.
Outro destaque local é a gastronomia. Seja no tradicional bordado – doce feito com frutas cristalizadas que têm as cascas desenhadas à mão – ou nos molhos e conservas de pimentas “tradicionais” como malagueta e biquinho e outros feitos com as espécies mais ardidas do mundo – como Carolina Reaper, Trindad Scorpion e Bhut Jolokia. O primeiro é conhecido na visita à fábrica Mistura Melada, o segundo pode ser degustado no Fogo Mineiro.
No alambique Coração de Minas, local de produção da cachaça homônima, o visitante aprende sobre o processo da fabricação do destilado, desde o corte da cana até a distribuição. A aguardente é facilmente encontrada em restaurantes e pousadas, exceto aquelas que investem em fabricação própria – o que não é raridade no município. Na praça central, há uma loja com produtos personalizados e edições especiais da bebida.
Doces bordados em exposição na Associação Dos Artesãos De Carmo Do Rio Claro. Foto: Ana Azevedo
Natureza e eventos
É valido ressaltar que três das principais quedas d’água – Alegria, Água Limpa e Véu da Noiva – ficam em áreas privadas que não são fiscalizadas pela prefeitura e também dispensam autorização dos proprietários. A operação é feita pela Di Boa, única empresa da cidade que atua com ecoturismo e pesca esportiva, além de fornece guias de turismo para acompanhar e orientar os viajantes nos passeios.
As duas lanchas têm capacidade para até seis viajantes cada e o passeio até a cachoeira dura cerca de duas horas. O roteiro pode incluir uma das três quedas d’água ou todas elas e há, ainda, a possibilidade de almoçar em um estabelecimento à beira do lago. Uma boa dica é a Pousada Jatobá, bem estruturada para receber os turistas nessa parada.
Outra atividade náutica de destaque é a pesca esportiva. Segundo Clesio Santos, proprietário do receptivo, a área é propícia para encontrar tucunarés, traíras e tabaranas. A atividade é indicada para pessoas de todas as faixas etárias e não requer experiência prévia.
Às margens do Mar de Minas, a Pousada Pontal do Lago, oferece chalés para até cinco pessoas – equipados com wi-fi, televisão e frigobar -, estrutura de lazer e promove passeios de contemplação em barcos pelo Lago de Furnas.
Mas se engana quem pensa que Carmo do Rio Claro é local indicado somente para descanso e contato com a natureza. Além do ecoturismo, o carnaval local lota os estabelecimentos hoteleiros, com festas de rua que se destacam pelo clima familiar. O calendário cultural inclui ainda a Festa do Peão, a cavalgada em torno da Serra da Tormenta e festa folclórica, com cerca de 30 companhias de Reis.
Marly conta que sonha em promover uma feira gastronômica focada em peixes e um festival de café com palestras e interações. “Temos muita sazonalidade e precisamos acabar com isso. Até o momento, a divulgação aconteceu basicamente pelo boca a boca, mas está entre os planos da Asceturis promover pelo menos quatro grandes eventos por ano”, diz.
Carmo do Rio Claro que teve poucos casos de covid-19 e encontra-se em fase verde no plano de retomada estadual, também se adequou aos protocolos de combate à transmissão da doença.
Essa ação complementa a oferta e tem de tudo para agradar clientes que buscam fugir de centros urbanos e dos destinos convencionais. Além de opções culturais, roteiros de ecoturismo e da gastronomia típica mineira, a receptividade fará com que o viajante se sinta em casa.
O doce Mar de Minas
Com 1.406,26 km² e 3.500 km de perímetro, o Lago de Furnas, pertencente à Usina Hidrelétrica de Furnas banha 34 municípios de Minas Gerais. O reservatório foi construído na década de 50, inundando propriedades privadas, fazendas e sítios arqueológicos, a fim de gerar energia não só para o estado sede, como para os vizinhos.
O local escolhido para a instalação da hidrelétrica foi o curso médio do rio Grande, no Sul de Minas, entre os municípios de São João Batista da Glória e São José da Barra. Atualmente, a entidade que cuida dos interesses da região é a Associação dos Municípios do Lago de Furnas (Alago), que em parceria com outros municípios, incluindo Carmo do Rio Claro, está com um projeto de investimento para alavancar o turismo regional.
“Há seis meses, a Alago está atuando para promover o turismo e a nossa cidade é uma das quatro investidoras. Estamos apadrinhando a iniciativa com o valor de cem mil reais”, diz o prefeito de Carmo do Rio Claro.