Campanha pede mais empatia com pessoas que sofrem com depressão

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 14 de novembro de 2018 às 21:16
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 19:09
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Doenças mentais estão entre as 10 patologias mais prevalentes de doenças incapacitantes para o trabalho

Foi lançada na
capital paulista, a campanha de esclarecimento sobre a depressão Pode Contar,
com enfoque na empatia, ou seja: a capacidade de familiares e amigos se
colocarem no lugar da pessoa que sofre com a depressão. O conteúdo da
campanha está disponível no www.medley.com.br.

Carmita Abdo, presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria
(ABP), explica que a empatia não é passar a mão na cabeça ou sentir pena de
quem sofre com a doença, mas se colocar no lugar do outro: “É se reconhecer no
outro. Nós na ABP falamos muito de combater o estigma da depressão e nada
melhor que exercitar a empatia”, disse.

De acordo com a médica, a empatia envolve processos afetivos e
cognitivos e se traduz na capacidade de perceber os sentimentos e emoções da
outra pessoa, sem julgamentos. Segundo ela, as doenças mentais estão entre as
dez patologias mais prevalentes de um total de 32 doenças incapacitantes para o
trabalho.

A engenheira Bernadete de Araújo, de 64 anos, conta que a
depressão a afetou de diversas formas. Ela sofreu de forma recorrente desde a
infância, mas notou sintomas exacerbados na vida adulta. Ainda assim, demorou
oito anos para conseguir o diagnóstico. “Houve um tempo na minha vida em que eu não conseguia
raciocinar, somar ou subtrair. Eu fazia relatórios em outras línguas, mas não
conseguia ler uma manchete de jornal. De repente, eu me tornei impaciente,
ansiosa e até agressiva. Eu sentia uma tristeza enorme e não entendia a razão”,
lembrou.

Diagnóstico

Para a cardiologista Roberto Miranda, da Faculdade de Medicina
da USP, muitas vezes é o médico primário – como cardiologista ou ginecologista
– que identifica os sintomas. “Muitos pacientes têm alterações cardíacas, dor de cabeça, dor
no peito, palpitações e crises de hipertensão. Eles vinham ao pronto-socorro
com essas crises e, após o tratamento contra a depressão, não voltavam mais ao
atendimento de emergência”, alerta.

O especialista explica que a depressão tem também relação com
outros eventos cardiovasculares e está associado ao aumento do risco de
infarto.

Tratamento

Táki Cordás, coordenador de ambulatório no Instituto de
Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, disse que
quanto menos desenvolvida é a sociedade, maior a demora para se buscar ajuda.
“Estima-se que 70% das pessoas que precisam de tratamento não estão recebendo”,
disse ele.

Depois de alcançar o diagnóstico, de 30% a 50% dos pacientes não
continuam com o tratamento, um índice preocupante para Cordás. “Preciso lembrar
que o antidepressivo não vícia, não muda a personalidade, não vai te deixar
ligado. Assim como o indivíduo que tem hipertensão, diabetes, o depressivo
precisa do medicamento”, disse.

Ele avalia que o tempo do tratamento pode variar conforme a
quantidade de crises apresentadas pelo paciente. Dependendo do caso, pode ser
de um ano ou, para aqueles que sofreram mais de três crises na vida, o
tratamento pode durar a vida inteira. “A nossa medicina ainda é apenas
controladora da doença”, explicou.

De acordo com ele, o paciente que toma a medicação por seis
meses e decide descontinuar o uso tem 80% de chances de sofrer uma recaída.


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