Brasil tem 77% das mortes de gestantes e puérperas por Covid-19 no mundo

  • Bernardo Teixeira
  • Publicado em 14 de julho de 2020 às 15:06
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 20:58
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Maior parte das mortes aconteceram durante o puerpério, ou seja, até 42 dias depois do nascimento do bebê

Um estudo publicado no periódico médico “International Journal of Gynecology and Obstetrics” aponta que 124 mulheres gestantes ou que estavam no período do puerpério morreram de Covid-19 no Brasil. 

Esse número representa 77% das mortes registradas no mundiais. Ou seja, morreram mais mulheres grávidas ou no pós-parto no Brasil do que em todos os outros países somados.

O dado revela uma taxa de mortalidade de 12,7% na população obstétrica brasileira, número superior às taxas mundiais relatadas até o momento. A maior parte das mortes aconteceram durante o puerpério, ou seja, até 42 dias depois do nascimento do bebê, e não na gestação, alerta a publicação.

O estudo foi feito por um grupo de enfermeiras e obstetras brasileiras ligadas à Unesp, UFSCAR, IMIP e UFSC. Elas analisaram dados de um sistema de monitoramento do Ministério da Saúde, o SIVEP-Gripe (Sistema de Informação da Vigilância Epidemiológica da Gripe).

Para as pesquisadoras, o risco aumentado pode estar relacionado à imunodeficiência relativa associada a adaptações fisiológicas maternas.

Fatores como o atendimento pré-natal de baixa qualidade, falta de recursos para cuidados críticos e de emergência, disparidades raciais no acesso aos serviços de maternidade, violência obstétrica e as barreiras adicionais colocadas pela pandemia para o acesso aos cuidados de saúde também são citados como motivos para a alta taxa de mortalidade no Brasil.

No total, 978 mulheres grávidas e no pós-parto foram diagnosticadas com Covid-19 no Brasil durante o período do estudo. Como não existe uma política de testagem para este grupo e apenas quem apresenta sintomas graves é testado, a pesquisa alerta para uma possível subnotificação.

O estudo ressalta que 22,6% das mulheres que morreram não foram admitidas na UTI e apenas 64% possuíam ventilação invasiva. Além disso, não foi oferecido nenhum suporte ventilatório a 14,6% de todos os casos fatais.

Esses dados sugerem que pacientes obstétricos podem enfrentar barreiras para acessar ventiladores e terapia intensiva, indica a publicação, que também ressalta a escassez de profissionais de saúde e falta de recursos de terapia intensiva nos serviços de maternidade brasileiros.


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