Aplicativos são usados por agressores para espionar e intimidar parceiros

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 26 de maio de 2018 às 22:22
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:45
compartilhar no whatsapp compartilhar no telegram compartilhar no facebook compartilhar no linkedin

Agressores usam apps para seguir suas vítimas e tornar a agressão psicológica ainda mais forte

Com a tecnologia cada vez mais
presente nas nossas vidas, é preciso tomar cuidado com um lado obscuro dos
aplicativos que, muitas vezes, servem apenas para facilitar o cotidiano.
Atualmente diversos apps de espionagem têm sido usados por agressores para seguir
suas vítimas e tornar a agressão psicológica ainda mais forte e recorrente.

Esse tipo de abuso acontece a 1 em
cada 4 mulheres e a 1 em cada 6 homens. Algumas das ferramentas desses
aplicativos possibilitam uma espionagem profunda nos aparelhos dos
companheiros, liberando acesso às localizações, mensagens e telefonemas.

Muitos desses aplicativos permitem
até que o agressor escute com quem a pessoa espionada está falando, alguns até
permitem que a ligação seja gravada.

O mais assustador é que esse tipo de ferramenta é
facilmente localizada na web e dá ao abusador um nível perturbador de controle
sobre a vida de seus parceiros. Não é preciso nem que alguém tenha acesso à uma
tecnologia sofisticada, já que, supondo uma relação abusiva, o agressor já
possui acesso ao celular da vítima (seja de forma consensual ou a partir de
agressões).

Esse tipo de espionagem também é usada para
conseguir entrar em contas nas redes sociais, monitorar as vítimas e até mesmo
para revelar informações pessoais.

Nas lojas de apps dos celulares,
por mais que a maioria desses aplicativos sejam pagos, alguns deles não cobram
nada, tornando seu download muito simples.

Uma novaiorquina que sofria abusos de seu
companheiro acabou encontrando ajuda em um grupo de apoio após passar por esse
tipo de situação. Ela imaginava que ia para os encontros secretamente, mas seu marido
havia instalado um aplicativo de localização no celular dela e encontrou o
local das reuniões.

Assim que ele soube para onde sua mulher ia, ele
chegou ao lugar onde o grupo se encontrava literalmente chutando portas. A
única alternativa dos conselheiros foi chamar a polícia.

Durante a pesquisa, foi identificado que os
programas automáticos que lutam contra esses tipos de práticas normalmente não
identificam tais apps como problemáticos. Isso acontece por culpa dos dual apps.

Existem dois tipos de aplicativos de localização
nas lojas dos aparelhos móveis, de um lado, aqueles para usos “inocentes”, como
“encontre seu amigo” e “encontre meu celular”; do outro lado estão apps de espionagem, usados para supervisionar a vida
das vítimas. Essa duplicidade dificulta o discernimento entre os apps bons
e os ruins.

Muitas pessoas defendem que esse tipo de aplicativo
deva ser retirado das lojas, como a PlayStore
– do Google – e a Apple Store,
pedir que o app seja apagado por
motivos de espionagem abusiva é a mesma coisa que exigir que uma marca de
utensílios domésticos retire suas facas de linha, para evitar possíveis
agressões com essas facas.

Além da falta de provas substanciais, os
desenvolvedores dos aplicativos poderiam ser prejudicados pela retirada
repentina da ferramenta das lojas.

Mas os desenvolvedores não são tão inocentes quanto
parecem: alguns aplicativos parecem terem sido projetados para uso de pessoas
abusivas, de acordo com as pesquisas feitas. Em outras palavras, os
desenvolvedores estão agindo de má-fé, fingindo ser legítimos, mas buscando
lucrar com o abuso.

Navegando pela internet foram encontrados,
inclusive, blogs que discutem e apontam os melhores aplicativos para
espionagem, que redirecionam o agressor para os sites oficiais dos apps.

Onze dessas ferramentas possuem duas abordagens
diferentes. Na primeira, na qual mandaram uma mensagem dizendo que queriam
espionar o marido, apenas dois dos aplicativos não responderam. Os outros até
instigaram atividades ilícitas de espionagem. Na segunda abordagem, onde eles
pediram ajuda se dizendo vítimas, alegando que foram espionados e exigindo a
retirada da plataforma, apenas um app
respondeu e o conselho não teve nenhuma utilidade.

Em resposta ao experimento, o Google tomou
iniciativas: parou de servir anúncios para os apps
usados parta abuso e fez um update
nas políticas da PlayStore para serem mais
restritos a aplicativos que têm a espionagem como objetivo -até mesmo baniram
alguns deles.

Retirar esses apps
do ar, de forma geral, requer muito cuidado, já que essa atitude repentina pode
servir de gatilho para uma agressão física que não existia anteriormente.

Como solução para esse problema, a Apple e o
Google (entre outras empresas) deveriam alertar aos seus usuários não só quando
certo telefone estiver sendo monitorado remotamente, mas como definir o
monitoramento remoto e como tornar os alertas significativos para os usuários
são desafios contínuos.

Definitivamente, é preciso desenvolver
melhores métodos para encontrar esses apps
de espionagem e restringir seu uso.


+ Tecnologia