A POSIÇÃO POLÍTICA DO ADJETIVO

  • Língua Portuguesa
  • Publicado em 17 de junho de 2019 às 15:28
  • Modificado em 8 de abril de 2021 às 14:20
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(O Boca do Inferno – refém dos códigos e das penas)

A gramática reúne toda sorte de leis, é o código penal do falador e do escrivinhador. A realidade a desmascara com ações, por vezes quase pornográficas dos substantivos. Os adjetivos têm que tomar posição, às vezes generalista, às vezes dúbia, às vezes constrangedora, às vezes mascarada antes ou depois do substantivo. Dependendo da ambiguidade ou da generalização, o substantivo prefere tomar o lugar do adjetivo. Se qualquer um, metido a professor, pode brandir aos gritos empulhações sobre a Constituição e o Código Penal como se mentiras fossem verdades absolutas e incontestáveis, alguém, em sã consciência, acredita que regras gramaticais regulamentam o que quer que seja nesse emaranhado de ações escabrosas?

Observe como uma regra básica pode ser atropelada pelos fatos. A posição do adjetivo em relação ao substantivo provoca mudança de sentido. Verdade? É melhor ponderar: “um grande homem” difere de “um grande homem”. Deveria. De fato, o adjetivo “grande”, em ambos os caso, carrega “grande ironia”. Como afirma uma lei da física: “Tudo depende do referencial que se adota”. Faltam “homens” na acepção da palavra que, mesmo considerados grandes, carregam sua pequenez.

Observe como uma regra simples funciona enviesada: O falso profeta (impostor) gritava para a multidão. / O profeta falso (desleal, mentiroso) gritava para a multidão. “Impostor”, “desleal”, “mentiroso”, em ambas as frases, são sinônimas, não são? E os brasileiros, a quatro anos, ele um profeta, apesar de, historicamente, terem sido atropelados por todos eles ao longo dos séculos.

Observe como a regra hiper-realista funciona: Ele é um professor simples. (sem luxo) / Ele é um simples professor. (insignificante). A merda na qual estamos atolados torna os adjetivos impiedosos e os substantivos hipócritas. O que esperar de um país que não investe nas suas crianças, nos seus jovens e nos seus velhos? Que invista em escolas, alunos e professores? Burrice como fome tanto quanto fome são instrumentos que solidificam todo tipo de doutrinação, deságuam em dominação.

Observe como a regra é óbvia, mas só o dominador conhece a essência: “simples professor” e “professor simples” têm exatamente o mesmo significado: professor é profissão em desuso, é pano de limpar chão. A posição do adjetivo antes ou depois do substantivo, antes ou depois de qualquer governo, nada muda, muito menos os salários pornográficos. Revolucionários do nada empunham bandeiras, clamando por direitos, que não sabem quais são. Papagaios repetem-se esperando revolução, revolução do nada, da manipulada informação.O pior indivíduo é aquele que não sabe que não sabe.

Observe com a regra indutora cria papagaios em profusão: “Faremos a reforma da previdência”. Eu usuária o adjetivo “previdente”. Seja previdente, não compre essa enganação. O que é bom para banqueiro, não é bom para a população. O primeiro período traz o sujeito “nós”. Nós, quem, cara pálida? É um sujeito subentendido, mas, neste caso, se torna indeterminado, pois me puseram lá (não sei quem?) sem me perguntar se eu quero estar lá. O substantivo “previdência” deveria prevenir: Previno: “Você será lesado depois de anos de trabalho, sem privilégio nenhum”. Esse congresso só estúpido, quando ninguém mexe no bolso dele. Previdente, salvou a previdência dele, a sua não.

Há uma figura de linguagem chamada metonímia que consiste em empregar um termo em lugar de outro (uma das mais frequentes é usar “a parte como se fosse o todo”). Então, usaram o velho truque do desqualificar o indivíduo pregando-lhe um carimbo na testa. Rotulador parte do princípio da imbecilizam, daí o ora adjetivo, ora substantivo que em qualquer frase significam a mesma coisa, a esperteza do rotulador. Alguns aão “esquerdopatas” ou “direitopatas”; uns são “petralhas” outros são “bolsominions”. Será que nenhum militante com dois neurônios, percebeu que estamos diante do substantivo censura? Da ação de censurar? Passamos 26 anos tentando nos libertar.

Substantivos hipócritas usam e abusam dos adjetivos surrados, para abusar dos idiotas conformados. “Velha política” e “nova política” são expressões que indicam a mesmíssima coisa: o famoso “toma lá; dá cá”. A velha política ganhou uma cirurgia plástica, porém, debaixo da argamassa, continua velha, corroendo a concordância verbal (relações entre sujeitos e suas ações) e a concordância nominal (relações substantivos e adjetivos): “Político ladrão” e “ladrão político” estão enfiados no mesmo saco. E isso não é uma “fake News”, jeito de o colonizado se achar chique traduzindo o colonizador: “notícia falsa” ou “falsa notícia”? “Nunca fomos colonizados”, disse o andrófago da “fake news” Oswald de Andrade. Ele próprio carimbado com nome de colonizador.

A Gramática precisa apanhar todos os dias pra saber quem é que manda. Diz Luís Fernando Veríssimo em O gigolô das palavras. Parodiando Veríssimo: “O povo também…”: todo ditador “pensa (?)” assim. Assim sempre foi, assim está sendo, assim sempre será. Joguem o código penal, gramatical, que sucumbiu, no lixo.


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