A pior das travessias

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 14 de agosto de 2017 às 09:01
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:18
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Tinha tudo para ser apenas 12 horas de uma rápida e prazerosa velejada entre as Ilhas britânicas Virgens até San Marteen.

Porém o vento exatamente contra e violento, anunciando uma das piores tempestades que, alguns dias depois,  arrasou boa parte das ilhas Virgens.

Ondas gigantescas vindo de todos os lados possíveis, que se juntavam exatamente por onde navegávamos, pareciam um caldeirão do diabo. De repente me vi dentro de uma máquina de lavar roupas ligada em aceleração máxima.

A noite seria longa, e quase mortal.

O Aleluiah chacoalhava tanto que era impossível parar em pé na parte de dentro. Só conseguia  ouvir tudo  caindo ao chão, todas as portas dos armários se abriram e tudo, tudo mesmo, foi ao chão.

Íamos negociando sem negociação com todas aquelas montanhas desgovernadas de água.

Ele é valente, e foi feito exatamente para isso, pensava eu, tentando em vão me acalmar.

Comecei a marear, enjoar, o que já não me acontecia há bastante tempo. Nosso corpo se ajusta a tudo, mas uma situação daquelas ainda não tinha enfrentado.

Administrar as  horas que não passavam não era fácil, ainda mais vomitando até as tripas…

Sabia o que tinha que fazer, e fazia o básico. Só e mais nada.

Ao amanhecer pude ver no horizonte, ao longe, o desenho de San Maarten. Me animei, mas nada de o mar melhorar.

Assim que o sol começou a subir, minha aproximação da ilha me trouxe alivio.

A ilha formou uma barreira salvadora, tanto para as ondas como também para o vento, que passou de 35 para 17 milhas por hora.

Pude chegar e adentrar com o Aleluiah na baia, muito bem abrigada de uma das ilhas mais charmosas do Caribe.

Uma ponte que abre em certos horários estava há 30 minutos da próxima abertura. Que bom, em breve estaremos totalmente seguro e bem amarrados em uma marina.

Port de Pleisant foi a escolhida entre muitas que passei dando uma olhada primeiramente.

Opção correta,  a marina e todo seu pessoal foram formidáveis comigo e com o Aleluiah.

Atracagem difícil pela velocidade do vento estar acima do normal, mas o pessoal era muito bem preparado.

Ali fiquei por cinco dias. A ilha é a mais organizada e bonita de todas que já passei. Metade dela comandada pela Holanda e a outra metade pelos franceses. A parte holandesa dá de dez a zero….!

Em pouco tempo nem perdia tempo em ir para o lado francês, que além de sujo e mal organizado, ainda tinha que lidar com os maus humorados e sem muita paciência dos franceses, que fazem questão de não falar inglês e você que se dane para entender a língua deles.

Na quinta-feira, depois de três dias ali, vi pelos aplicativos de meteorologia que estava vindo uma grande tempestade tropical e deveria atingir toda parte central do Caribe em poucos dias, causando pânico nos velejadores e desespero na população.

Se ficar o bicho pega se correr o bicho come!!!

Tinha pela frente duas opções: a primeira, ficar  e enfrentar os ventos violentos ali mesmo.

A segunda: zarpar o mais rápido possível para o Sul e fazer a maior travessia em solitário que já havia feito. Quase 500 milhas sem ter nenhum pedacinho de terra para parar em qualquer emergência. Seriam cinco dias diretos sem direito a nenhuma parada, dia e noite. A bordo, somente eu.

Não sei se estava preparado para tanto, mas algo me disse: vai.

Joguei meu coração lá na frente,  em Bonaire, e sai em busca desse paraíso, eu o Aleluiah e Deus.

Na próxima publicação conto essa que foi minha maior aventura pelos mares até então: San Marteen/Bonaire. E a perfeita escapada do furacão que se aproximava. Inacreditável.

Bom domingo de dia dos pais para todos.

Fraterno abraço.


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