1001 coleções para se ter antes de morrer

  • Aromas em Palavras
  • Publicado em 18 de outubro de 2017 às 13:24
  • Modificado em 8 de abril de 2021 às 14:11
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Essa semana fui fazer uma longa contagem das moedas que venho guardando pro meu sobrinho há dois anos, desde que ele nasceu. Abri o meu lindo cofre de submarino amarelo como uma boa beatlemaníaca, e fui separando cada uma por seu valor e modelo. Duas horas depois, e alguns achados especiais (como moedas de um real especiais das olimpíadas) que com certeza farão parte de uma bem pequena mas especial coleção de moedas e notas antigas, comecei a me lembrar como fui influenciada pelo meu avô quando o assunto são coleções. Sempre gostei de ter algum tipo de coleção. A primeira foi de papéis de carta, como toda menina daquela época (ainda mantenho a pasta guardada com muito carinho), depois adesivos (essa quase que totalmente intacta até hoje), então selos (particularmente e totalmente influenciada pelo meu avô) e hoje em dia livros.

Uma em especial eu não cheguei a mencionar aqui, mas teve que ser finalizada alguns anos depois de ter sido começada, porque o espaço não nos ajudava a mantê-la: uma coleção de vidros de perfume! Quando alguém finalizava um frasco já sabia que podia mandar lá para casa. Esses perfumes não eram somente para guardar, eram devidamente ‘catalogados’ e eu e minha irmã colocávamos preços neles. E assim, na linda varanda da nossa casa de madeira montávamos uma verdadeira perfumaria com os mais lindos frascos (de vez em quando até mesmo dentro de suas caixas originais). Uma mesa virava balcão, um dente na parede virava prateleira, e tínhamos até máquina de registrar de brincadeira. Ali aprendemos várias coisas, muito de matemática, como ser boas vendedoras, apreciar bons perfumes e conhecer algumas fragrâncias de longe até hoje, montar bloquinhos para notas com restos de sulfite colados e presos em periquitos de varal. Mas uma coisa que não sabíamos naquela época, era que os frascos são por muitas vezes a parte mais cara dos perfumes! Sim, pode parecer incrível, mas eles podem representar cerca de 60% do valor do perfume. Não é à toa que as marcas investem pesado no design. E não há um estilista de alta costura que não deixe seu DNA também na perfumaria.

O mais icônico e clássico deles é o Chanel n°5, com seu inconfundível design art deco. Por essas e outras é que, mesmo quando o líquido acaba, o vidro permanece na vida, na cômoda e na memória afetiva do consumidor, se transformando até em item de coleção e de decoração. Meu pai trabalhou a vida toda com exportação de calçados, e um dos presentes que sempre trazia de suas viagens eram perfumes, e miniaturas lindas! Uma das miniaturas que tínhamos e amávamos era o L’air Du temps de Nina Ricci. Um dos perfumes mais icônicos já feitos. A embalagem dele faz parte do nicho que representa um contexto social ou cultural, ele foi lançado em 1947 logo após a Segunda Guerra Mundial. Traz em sua tampa duas pombas como símbolo da paz e representa muito bem o estilo clássico e sofisticado de Nina Ricci. Já o maior desafio para os designers e fabricantes na história da perfumaria, foi o Angel de Thierry Mugler, o formato de estrela foi algo muito complexo para ser produzido.

Existem perfumes que são feitos em edições especiais, e existem pouquíssimas unidades no mundo todo. Mas a importância vai além do design ou da raridade, mas também da história que carrega. No começo do século 20, a arte da vidraria era completamente artesanal, feita a mão. Algumas marcas de cristais como Lalique e Baccarat eternizaram alguns frascos para linhas inteiras de perfumes, como François Coty. Com a evolução da indústria vidreira e automatização do processo, o desafio é ser cada vez mais criativo.

Graças à tecnologia, estão sendo criadas verdadeiras esculturas em forma de frasco de perfume. Um dos mais recentes é o perfume Good Girl Glitter, de Carolina Herrera, em forma de salto agulha altíssimo, todo em azul cravejado de brilhos. Ou seja, uniu dois objetos do desejo feminino: salto alto e um frasco de perfume. Por muitas vezes, já vi pessoas escolhendo perfumes apenas pelo frasco, assim como escolhem vinhos pelo design dos rótulos ou até mesmo pelas garrafas.

Com todas inovações e design incríveis, a vontade é recomeçar a coleção e ‘conversar’ com os livros para ver se eles podem ceder um espacinho nas prateleiras.

*Esta coluna é semanal e atualizada às quintas-feiras.​


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