1ª deputada transexual profere palestra nesta sexta-feira, 16, na Unesp Franca

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  • Publicado em 16 de agosto de 2019 às 10:17
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 19:44
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Erica Malunguinho abordará o tema “Enfrentamentos Necessários: Políticas de Negritude no Tempo Atual”

Deputada estadual Erica Malunguinho abordará vários assuntos em evento nesta tarde, em Franca (Foto: Reprodução)

​O coletivo Afrontar traz à Unesp Franca nesta sexta-feira, 16 de agosto, a deputada estadual Erica Malunguinho, a primeira deputada transexual eleita na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp).

A educadora é formada em estética e história da arte pela Universidade de São Paulo (USP) e debaterá com a juventude universitária o tema “Enfrentamentos Necessários: Políticas de Negritude no Tempo Atual”.

Trata-se de evento de construção política e social. Acontecerá na Várzea a partir das 17h30. O debate abordará a mulher trans na política, conjuntura atual e historicidade. Também haverá apresentações culturais no cronograma do dia com participações inéditas.

A deputada estadual também estará na Casa da Cultura de Franca neste sábado, 17, às 18h, através de convite do Conselho Municipal de Participação da Comunidade Negra de Franca ( Comdecon). A proposta do encontro é reunir a comunidade e as organizações do movimento negro de Franca e região para um bate papo. 

Sua trajetória até a Alesp

Nascida em Recife, “no bairro mais negro da cidade”, Erica Malunguinho cresceu em uma família que sempre questionou as desigualdades. A parlamentar foi muito atuante na escola, debatendo com os colegas, fazendo ações e também por meio de performances.

Há 15 anos, se mudou para São Paulo, onde continuou com a militância e estudou educação, se tornando mestre em estética e história da arte pela USP. “Passei anos dando aulas para diversos grupos, como projetos sociais e instituições reconhecidas. Essas aulas estavam sempre atreladas à arte, cultura e política.”

Nessa época, a deputada percebeu que existia uma limitação para as minorias em termos de prática política e, desde então, passou a se organizar de outras formas para dar continuidade à construção histórica dos negros e LGBTs, como com a criação da Aparelha Luzia, centro cultural e político, considerado um dos mais importantes pontos de resistência negra da cidade. “Essa foi minha trajetória até chegar a este momento de agora, de sistematização, na Assembleia Legislativa”, diz.

A decisão de se candidatar ao cargo de deputada estadual surgiu para dar continuidade ao processo de resistência dentro das articulações ao longo da história. “Tem algo que é do sistema político e da sociedade acontecendo de forma excludente. É o processo macro. Do outro lado, tem uma história de luta. O povo preto e o povo LGBT estava construindo outra história a respeito da opressão e da violência. Independentemente da grande narrativa violenta, temos que continuar.”

Primeira mulher trans na Alesp

“Ser a primeira mulher trans dentro da Assembleia Legislativa de São Paulo é ter a certeza da existência de um problema estrutural e histórico grave, que faz com que corpos LGBTs e pretos tenham sido apagados das ditas grandes narrativas.” É assim que Erica Malunguinho define sua existência enquanto deputada estadual eleita pelo PSOL em 2018. “Não sou a primeira apenas na Assembleia de São Paulo, como também do Brasil”, afirma.

Malunguinho se refere a seu mandato no feminino, usando o termo “mandata quilombo”, para evidenciar seu propósito maior: o fundamento racial e de gênero, pensando políticas interseccionais e estruturantes. O foco nas minorias, conforme a parlamentar, “diz respeito obviamente à implicação com esses grupos enquanto sujeitos e sujeitas, mas também não apenas sobre essas populações”.

“Entendemos que temos que trabalhar desse lugar, com LGBTs e o povo negro, historicamente inferiorizados, porque é onde estão todas as violências estruturais”, pontua. Para ela, uma vez em que eles conseguem deslocar-se deste lugar de opressão e precarização de suas vidas, a sociedade inteira se transforma e vire um lugar melhor para todos, pois é a partir da base que se movem as demais estruturas sociais. “É uma emancipação coletiva.”


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